Foz do Iguaçu e a representatividade política: a história eleitoral e o cenário para 2026
Sexto município mais populoso do Paraná, com peso econômico e geopolítico singular, Foz do Iguaçu ainda não transformou plenamente sua força demográfica em bancada própria, e chega a 2026 diante do desafio de reduzir a dispersão de votos e consolidar uma representação à altura de seu território.
Redação Almanaque Futuro
Foz do Iguaçu entrou na década de 2020 com um paradoxo bem definido: é uma das cidades mais estratégicas do país, mas durante anos conviveu com baixa representatividade política. Segundo o Censo 2022, o município acumula mais de 285 mil habitantes, com projeções que se aproximam dos 295 mil moradores em 2025, o que o coloca como o 6.º mais populoso do Paraná. Esse porte demográfico, somado a uma economia alicerçada no turismo, comércio internacional, serviços e na presença de Itaipu Binacional, indicaria, em tese, um peso político bem maior do que o verificado na prática ao longo das últimas décadas.
Do ponto de vista eleitoral, o quadro também é expressivo. Com cerca de 200 mil eleitores cadastrados, Foz do Iguaçu possui densidade suficiente para eleger, sozinha, mais deputados federais e um pequeno grupo de deputados estaduais com base consolidada na cidade. Na prática, porém, uma parcela significativa dos votos segue dispersa. Estimativas apontam que entre 60% e 70% dos votos válidos ainda se destinam a candidatos sem domicílio político direto em Foz, muitos deles concentrados em Curitiba, Cascavel e outras regiões. Esse fenômeno corrói a capacidade de pressão institucional da fronteira e ajuda a explicar o “vazio de reivindicações” observado em períodos anteriores.
Historicamente, a cidade conviveu com longos intervalos sem representação própria contínua em Brasília. Foz atravessou anos dependendo de suplências ou de mandatos com vínculos apenas parciais com o território. Em outras palavras, “emprestou deputados de outros municípios”. Na esfera estadual, a oscilação também foi marcante: em alguns ciclos, a região contou com nomes de peso; em outros, perdeu espaço para municípios menores, porém mais organizados eleitoralmente. O resultado foi um déficit de protagonismo em temas decisivos, como segurança de fronteira, infraestrutura viária, dentre outras.
A partir da eleição de representantes diretamente vinculados a Foz – tanto na Câmara Federal quanto na Assembleia Legislativa – esse quadro começou a se alterar. A presença de parlamentares com base efetiva na cidade contribuiu para inserir de forma mais contundente pautas como a duplicação da BR-469, a Perimetral Leste, a ampliação do Aeroporto Internacional, a defesa da cota de lojas francas, o fortalecimento do turismo trinacional e a atenção às demandas sociais de uma fronteira complexa. Ainda assim, a “matemática da bancada” permanece aquém do potencial: o município tem tamanho para formar um núcleo estável de representantes próprios, mas a articulação entre liderança política, entidades de classe e trade turístico ainda não atingiu o nível de coesão necessário para reter, na cidade, a maior parte dos votos que hoje “viajam” pelo Estado.
O cenário para 2026 combina elementos nacionais e locais. Em âmbito federal, tudo indica que o país seguirá em ambiente de forte polarização entre campos ideológicos de direita e esquerda, o que tende a influenciar a narrativa das campanhas. Em Foz, porém, o comportamento do eleitor tem mostrado perfil mais pragmático: a economia baseada em comércio, serviços e turismo tende a valorizar candidatos que entregam obras, recursos, segurança e desburocratização, mais do que discursos estritamente ideológicos. Nesse contexto, ganham espaço candidaturas de centro e centro ampliado, capazes de dialogar com diferentes grupos e, ao mesmo tempo, defender uma agenda clara para a fronteira.
A formação de uma “bancada iguaçuense” robusta em 2026 passa por alguns pontos-chave. O primeiro é a redução da dispersão: se parte expressiva dos cerca de 200 mil eleitores de Foz for orientada a apoiar um conjunto limitado de candidaturas com real compromisso regional, a cidade terá condições de ampliar sua presença tanto na Assembleia Legislativa quanto na Câmara dos Deputados. O segundo é o alinhamento entre setores organizados – trade turístico, entidades empresariais, sindicatos, organizações sociais – em torno de pautas estruturantes, que vão da mobilidade urbana ao turismo de compras, da segurança integrada às políticas de desenvolvimento de fronteira.
O terceiro ponto é a visão ampliada de território. Foz não é apenas seus 285 mil habitantes dentro dos limites municipais: funciona, na prática, como polo de uma área de influência que se aproxima de um milhão de pessoas quando se consideram municípios vizinhos e as cidades-gêmeas do Paraguai e da Argentina. Representantes com base na fronteira precisam atuar como “embaixadores” desse conjunto, levando a Brasília e Curitiba reivindicações que não cabem nos moldes tradicionais das cidades do interior – como a gestão integrada de fronteiras, a logística internacional, o turismo trinacional e as relações econômicas do Mercosul.
O ano de 2026, portanto, tende a ser um divisor de águas. Ou Foz do Iguaçu consolida o avanço recente e transforma seu peso populacional e econômico em representação proporcional, ou corre o risco de voltar a um cenário de fragmentação, em que muitos votos se espalham e poucos retornam em forma de força política institucional.
Nas páginas seguintes, este suplemento apresenta perfis e trajetórias de lideranças que hoje ocupam mandatos com base em Foz do Iguaçu e região, permitindo ao leitor aprofundar a reflexão sobre o papel de cada uma delas nesse novo ciclo de representatividade.
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