Entre obras, impasses e a pulsação de uma cidade que não para
Em um ano de contrastes, Foz do Iguaçu alternou recordes no turismo, tensão política e frustrações com as obras estruturantes que insistem em reescrever o cotidiano urbano.
Redação Almanaque Futuro
Foz do Iguaçu atravessou 2025 sob a convivência incômoda entre avanço e estagnação. O turismo, uma força motriz da economia local, entregou números históricos: mais de 3,3 milhões de visitantes circularam pelos atrativos da cidade, com picos de ocupação hoteleira acima de 90% em feriados estratégicos e um giro econômico que animou comerciários, guias, operadores e investidores. A percepção de prosperidade, no entanto, esbarrava todos os dias na dureza do asfalto — ou na falta dele — e na lentidão de obras que, além de imprescindíveis, já deveriam fazer parte do patrimônio concluído da cidade.
A duplicação da BR-469, a chamada Rodovia das Cataratas, viveu um ano irregular. O início do período sugeria avanços sólidos, mas com atrasos e um cenário que transformou a principal via turística de Foz em um corredor de frustração. Congestionamentos diários, desvios improvisados e impactos diretos sobre o Parque Nacional, Aeroporto, hotéis e outros atrativos, geraram desgaste político e operacional. A cada feriado, a via confirmava o que a população já sabia: a obra caminha, mas a passos muito abaixo da expectativa de uma cidade que depende dela para respirar.
A Perimetral Leste, peça-chave da nova logística fronteiriça associada à Ponte da Integração Brasil–Paraguai, também não venceu o cronograma. Problemas nos acessos, questões de engenharia e renegociações marcaram um ano de incertezas. O setor de Comércio Exterior viu seus cálculos de competitividade adiados mais uma vez, enquanto caminhões continuaram circulando por rotas saturadas e desprovidas da fluidez prometida. Pior, não deixam as ruas e avenidas da cidade em paz. A obra foi finalmente entregue em 11 de dezembro, mas ainda carece de respostas, como a conclusão de uma estação aduaneira. Sem a estrutura, a Perimetral só terá serventia para os veículos leves. Os pesados continuarão atravessando a área central de Foz do Iguaçu.
No campo político, a transição de governo adicionou outra camada de tensão. O prefeito Joaquim Silva e Luna, em seu primeiro ano de gestão, enfrentou o desafio clássico de qualquer administração municipal: demandas reprimidas. A Câmara Municipal e a imprensa dedicaram boa parte do ano a debates sobre a velocidade — ou a falta dela — na obtenção de recursos estaduais e federais, e a articulação com diversos níveis de governo. Comparações com o antecessor ocuparam o cenário, alimentando embates entre base, oposição e sociedade civil.
Enquanto isso, o cotidiano iguaçuense se reorganizava como podia. O trânsito, pressionado por obras simultâneas e pelo aumento da frota, chegou ao limite. As chuvas de verão repetiram o drama das enchentes localizadas em áreas como Porto Meira e Morumbi, expondo a fragilidade da drenagem urbana. No segundo semestre, tempestades severas derrubaram árvores, danificaram redes elétricas e evidenciaram a urgência de um plano de manejo ambiental robusto — um tema que sempre retorna, mas raramente avança na velocidade necessária.
Em paralelo, eventos climáticos extremos reforçaram a vulnerabilidade do território, e a população conviveu com quedas de energia e transtornos que mobilizaram Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e concessionárias. O ano foi, em muitos sentidos, um teste de resiliência para uma cidade que cresce mais rápido do que os seus sistemas de apoio conseguem acompanhar.
A arrecadação, o IPTU e o desafio fiscalde um ano de transição
Entre cautela administrativa, inadimplência elevada e pressões por investimentos, 2025 cobrou do município equilíbrio e capacidade de negociação.
A política fiscal de 2025 foi marcada por prudência. A arrecadação própria manteve trajetória ascendente, impulsionada pelo setor de serviços e o comércio. Mesmo assim, o Executivo enfrentou cobranças constantes para ampliar investimentos, especialmente diante das obras federais e estaduais em atraso e da demanda crescente por melhorias urbanas.
No campo tributário, o IPTU voltou ao centro do debate. A modernização dos canais de pagamento melhorou a fluidez do processo, mas a inadimplência — historicamente alta no município — voltou a preocupar no último trimestre. Técnicos da Fazenda Municipal passaram a discutir abertamente a implantação de um novo REFIS para 2026, visto como alternativa para estabilizar o caixa sem comprometer as metas de arrecadação.
O investimento privado, por sua vez, mostrou vigor. O CODEFOZ continuou atuando na prospecção de oportunidades e o setor imobiliário se manteve aquecido, especialmente em empreendimentos de médio e alto padrão. A aprovação de novos condomínios horizontais e verticais sinalizou que, apesar dos desafios, a confiança no potencial futuro da cidade permanece sólida.
Por fim, o Plano Diretor — sempre tema sensível — voltou ao debate público. Audiências discutiram densidade urbana, preservação ambiental e diretrizes para o crescimento ordenado. Se não houve consenso absoluto, houve ao menos um avanço: a população voltou a participar das decisões estruturais que definem como Foz quer existir nas próximas décadas.
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