Governo em terreno minado, cidade em movimento

Em meio a obras atrasadas, pressões institucionais e desafios sociais, Foz do Iguaçu atravessa um ano de transição com sinais de desgaste — e também de reinvenção.

Almanaque Futuro/Redação

Foz do Iguaçu entrou em 2025 com o sobressalto da mudança. A posse do general Joaquim Silva e Luna, em sua primeira eleição disputada, desmontou prognósticos e contrariou apostas. Eleito em primeiro turno, derrotando o ex-prefeito Paulo Mac Donald, chegou ao Paço com discurso de austeridade, linguagem de CEO e a promessa de arrumar uma casa que, como ocorre com qualquer início de gestão municipal no Brasil, não se apresenta como estrada pavimentada, mas como um cadafalso montado ao longo de anos de demandas acumuladas. município vive sob pressão constante de expectativas — legítimas, exageradas ou francamente oposicionistas — enquanto a população tenta decifrar prioridades e reorganizar esperanças. Mas o cenário encontrado não era cordial. Obras estruturantes, como a Perimetral Leste (Entregue em 11/12) e a duplicação da BR-469, seguiam em ritmo lento; ruas e avenidas exibiam o já simbólico “emburacamento”; e a herança de sete anos e meio da gestão anterior ainda reverberava em forma de atrasos, passivos e desgastes. Foz é, por natureza administrativa, um terreno ingrato para estreantes.

Ainda assim, alguns indicadores desafiaram o pessimismo. Na Segurança Pública — área frequentemente relegada ao ruído das percepções — houve melhora concreta: queda nos índices de assaltos, resposta mais ágil das forças policiais, integração mais evidente entre equipes e um esforço coordenado para unificar informações entre órgãos municipais, estaduais e federais. Mas novas sombras surgiram: cresceram os chamados ligados à violência doméstica, um drama que não se combate apenas com viaturas, mas com políticas sociais, educação, saúde mental e redes de apoio. Há problemas que pertencem à alma da sociedade, e não ao quartel-general da repressão ao crime.

Esse contexto evidencia um dado que muitos ignoram: Foz do Iguaçu é uma cidade administrativa e geograficamente sitiada. Ao sul e oeste, as fronteiras; a leste, o Parque Nacional do Iguaçu; ao norte, Itaipu Binacional; para entrar e sair, apenas rodovias federais ou o aeroporto — todas sob ingerência da União. Nada aqui se governa sozinho. Da Saúde à Educação, da Ação Social ao Turismo, do Comércio às Obras, tudo exige pactuação, articulação e, quase sempre, um chapéu na mão. Ser prefeito em Foz é enfrentar tormentas de todos os lados — institucionais, climáticas, políticas — e ainda manter a cidade de pé.

Mas, como sempre, Foz reage. O turismo manteve vitalidade: Parque das Aves em recorde de visitação, Cataratas em alta, Itaipu consolidada, novos atrativos chegando e o comércio retomando fôlego graças ao setor de serviços. Itaipu fechou 2024 com números históricos e presença no Guinness, enquanto o Paraná figurou entre os estados que mais geraram empregos formais no início de 2025. Por trás das planilhas, um gesto simples e poderoso: famílias voltando a trabalhar.

O planeta, porém, lembrava sua urgência. Janeiro de 2025 registrou uma das maiores anomalias térmicas da série histórica global. Em novembro, a COP 30, em Belém, deu visibilidade ao trabalho de reflorestamento e conservação de Itaipu, provando que a fronteira é também laboratório de sustentabilidade. No mesmo mês, o Aquafoz abriu suas portas como novo símbolo de educação ambiental.
No plano interno, a vida seguiu seu vai-e-vem: o Mercado Público Barrageiro virou ponto de encontro, o Carnaval tomou o centro, a 24.ª Canja do Galo Inácio atraiu multidões, a Charanga da Yolanda reviveu memórias e o aniversário de 111 anos da cidade passou sem fanfarras, mas com vigor cotidiano. E, em meio ao ruído político, surgiu um gesto de maturidade: o primeiro Censo da População em Situação de Rua, revelando rostos, histórias e urgências que pedem mais do que discursos.

Este suplemento nasce desse mosaico: uma cidade entre desafios antigos, avanços discretos e uma esperança que resiste — mesmo quando tudo parece conspirar contra. Porque, perto de completar um ano de governo, já não há espaço para testes: a máquina tem de rodar, as soluções precisam aparecer e a credibilidade deve ser reconquistada, passo a passo, obra a obra, gesto a gesto.
Ao final, caberá à população decidir se renova o voto de confiança ou se mergulha no caos da descrença. A primeira opção ainda parece a mais indicada — não por ingenuidade, mas porque Foz sempre soube se levantar.

E é essa esperança, teimosa e iguaçuense, que convidamos você a carregar consigo na leitura que começa agora.

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