Alô, alô marciano!
“A vida me sugeriu ‘dar um tempo’; eu preferi dar um passo adiante e, aos 67, virei aprendiz de algoritmo — e não pretendo me aposentar da reinvenção.”
Rogério Bonato
Ainda não cheguei chegando, mas estou em voo rasante. O Almanaque Futuro está finalizando seu módulo Rádio/TV/Web — e eu fui escalado para pilotar esse foguete. À beira dos 70 (67, mas não espalhem), descobri que domino expressões como link juice, Pogo-Sticking e Zombie Page, feito um veterano de guerra digital que aprendeu a conversar com algoritmos. E, para espanto geral, o primeiro site montado por mim ainda leva “assinatura de design”, porque acharam bonito. Vai entender.
Estudei arquitetura e desenhava estruturas dignas de extraterrestres. O cálculo estrutural me odiava — e eu pagava na mesma moeda. Hoje analiso métricas e algoritmos. A mente humana é mesmo muito estranha.
Durante anos, escrevi colunas como quem ergue catedrais. Até que, quando o barco do impresso começou a fazer água, ninguém mais se entendia — e, no meio daquela balbúrdia, ouvi a sentença: “Você está ultrapassado, teu tempo já venceu.” Dias depois, veio o que chamam de “elegância corporativa”: sugeriram que eu “desse um tempo”. Uma gentileza que, traduzida do corporativês, significa exatamente aquilo que aconteceu — levei um pé no traseiro. Sim, este foi o presente que ganhei ao completar 50 anos de jornalismo. Alguns ganham relógio de ouro; eu ganhei um empurrão para fora do teco-teco soltando fumaça. Sem paraquedas.
Depois disso, acordava, fazia café, encarava o computador como quem encara um velho desafeto. Não conseguia escrever porque não seria publicado; não lia, porque compreendera que a informação já não viraria redação; evitava rádio e televisão. Um amigo psiquiatra diagnosticou: “isso é depressão.” Talvez fosse. Ou talvez fosse apenas o luto de escrever para quase ninguém.
Até que a tela do computador, num belo dia, sorriu para mim. Entrei nela com tudo. Reinventei-me. Quem está ultrapassado é o pensamento mofado.
Não escrevo mais em jornal impresso. O GDia ainda é entregue, mas quem lê primeiro é o cachorro: rasga, faz de cama e pela manhã mija em cima. Eu, ao contrário, acelerei. Recebo mais de cem “bom dia”, sinto quase um êxtase — sem precisar de comprimido. Baruch Hashem! A vida voltou a pulsar em pixels.
Agora, conto os dias para 5 de dezembro, quando estreia nosso novo módulo de comunicação. A emoção lembra buscar o primeiro jornal na boca da máquina, aquele orgulho quente de tinta fresca. Eu e Eliane dissemos: “Ói nóis aqui traveiz”, no melhor estilo Adoniran. No Almanaque Futuro seguirei com artigos, a coluna No Bico do Corvo, reportagens; e no módulo Rádio/TV vamos produzir programas, vídeos e entrevistas.
Tudo o que sempre fiz — e tudo o que ainda posso inventar.
O acesso é simples: www.almanaquefuturo.com.br
. O link está lá, evidente, apontado pela precisão cirúrgica de Eliane. Fácil, responsivo e acolhedor. Vamos nos conectar. Porque reinventar-se continua sendo a melhor maneira de continuar chegando
