Entre memórias, obras e destino: Foz segue levando

Meio de férias do papel, mas não da vida, o colunista retorna com a cabeça cheia de sons, lembranças e ironias — da Praça Naipi ao fundos dos rios, passando por Juvêncio, Palmar e a cidade, com todas as suas mudanças. 

Ai que saudade

Recebi mensagens curiosas: “Está vivo?”; “Sumiu por quê?” Pois bem — estou de férias! Mas não dessas em que a gente some do mapa com um chapéu de palha e um drinque na mão. Tirei umas “férias de textos”, para mergulhar em tarefas que exigem foco absoluto (mais detalhes adiante). Gente inquieta como eu não sabe o que é parar. Confesso: me divirto trabalhando. Sempre encontro alegria no ofício, como se cada dia fosse uma folga produtiva. E antes que alguém diga que o mundo não para, aviso: estou de volta, e o botãozinho da realidade já está ligado (momentaneamente).

A alegria da área Sul!

Depois de anos convivendo com britadeiras, desvios e poeira das obras da Perimetral Leste e da duplicação da BR-469, os moradores da Vila Carimã, Novo Horizonte, Buenos Aires, Jardim Cataratas, Mata Verde, Remanso e vizinhanças já podem respirar — ainda com máscara, mas de alívio. A Dalba Engenharia divulgou mapas e instruções sobre os novos acessos. Atenção redobrada: a partir do dia 13 de novembro de 2025, haverá mudanças importantes no tráfego. Quem vier da Argentina pela Avenida Mercosul e quiser chegar ao Centro, deverá seguir pelo Viaduto da Perimetral Leste, fazer o retorno e então acessar novamente a Avenida das Cataratas.

 No sentido contrário

Quem for em direção às Cataratas do Iguaçu seguirá pela alça de acesso à BR-469, agora com o tráfego desviado para a marginal direita — o velho leito central da rodovia finalmente vai tirar um cochilo e, morrer dormindo. O acesso ao Bairro Carimã, pela Rua Carmen Gatti, será reaberto, mas apenas para moradores e usuários, segundo a Dalba. A via será de sentido único, sob orientação da Foztrans, por causa das interferências físicas na região. Agora, entre nós: alguém vai controlar isso como? Pedirão conta de luz, identidade, testamento? É difícil imaginar que entregadores, comerciantes e prestadores de serviço vão ficar de fora. Entendeu-se que esse é o caminho de entrada, mas — e a saída? Pelos mapas (ilegíveis, diga-se), os motoristas sairão pela Rua Indianópolis, obrigados a encarar o retorno em frente ao Golf Club. Ou seja: alívio na entrada, sofrimento na saída. Mas o consolo é que as obras estão a todo vapor — e há luz no fim da duplicação.

 Juvêncio

Volta e meia a memória me puxa pela gola — e dessa vez foi o velho Juvêncio Mazzarollo quem reapareceu. Gaúcho valente, jornalista dos bons, foi o último preso político da ditadura, alguém que ensinou que escrever é resistir — e rir também é um ato de coragem. Juvêncio enfrentou grades, censura e processos, mas nunca perdeu o humor nem o faro da notícia. Convivi com ele em Foz, tempos de chumbo e de sonhos, quando ser repórter era profissão de risco e de honra. Agora, vê-lo virar personagem de livro é como reencontrar um companheiro que voltou do tempo para nos lembrar: o jornalismo só vale se for livre.

Livro e lançamento

A história de Juvêncio Mazzarollo ganhou forma no livro “Juvêncio – O Último Preso Político da Ditadura Brasileira”, da jornalista e cientista política Daniela Neves. A obra mergulha nos bastidores da prisão do jornalista entre 1982 e 1984, na efervescência dos movimentos sociais de Foz do Iguaçu e da luta pela redemocratização. Daniela pesquisou arquivos do Nosso Tempo, entrevistou 21 testemunhas e reconstruiu um capítulo essencial da resistência paranaense. O lançamento acontece nesta quinta-feira (13), às 19h, no Mercado Público Barrageiro. Leitura obrigatória — não apenas para lembrar, mas para entender o preço da liberdade.

O Museu da Imprensa

Me considero um observador do cotidiano. Antes eu olhava, entendia e escrevia; hoje analiso — e, em muitos casos, fico simplesmente pensando. O Alexandre Palmar, por exemplo: esse “menino” carrega uma das missões mais nobres — a de preservar a notícia. Faz, praticamente sozinho, o que o coletivo deveria encarar como lição de casa. Aquilo que é armazenado nas páginas dos jornais, nas gravações de TV e rádio, nada mais é do que a memória viva da cidade. Alexandre é filho de peixe graúdo e aprendeu a respirar fora d’água, porque nada é fácil quando faltam recursos e o mundo quase sempre diz “não”. Ele não se importa: balança os ombros e segue em frente. O Museu da Imprensa é um marco memorial importantíssimo e deve ser amparado pelos colegas e pela sociedade — porque, daqui a algum tempo, será ali que a população recorrerá para desvendar o passado. Aguardo ansiosamente o evento de lançamento, marcado para 26 de novembro, às 19 horas, no Mercado Público Barrageiro.

Falar em mercado…

Aos poucos, o nosso Mercado Público faz valer cada centavo investido na reforma do antigo espaço onde funcionava a COBAL. Todos os movimentos culturais, exposições, projeções, reuniões, mostras, encontros de entidades e de amigos — tudo está acontecendo lá. Que maravilha!

Outro grande atrativo!

Pois é, Foz do Iguaçu vai mergulhar de vez no mundo subaquático! O tão aguardado AquaFoz, novo centro de conservação e educação ambiental do Grupo Cataratas, abre suas portas no dia 14 de novembro, com preços promocionais para quem garantir ingresso antecipado pelo site www.aquafoz.com.br. Localizado em frente ao Parque Nacional do Iguaçu, o aquário oferece uma viagem sensorial que começa nos rios Iguaçu e Paraná e segue até os oceanos, mostrando como todas as águas se conectam num mesmo sistema vivo. É ciência, arte e espetáculo — tudo junto e em alta definição.

Obra robusta

Com investimento de R$ 140 milhões, o AquaFoz será o terceiro atrativo do Grupo Cataratas na cidade, ao lado do Marco das Três Fronteiras e do Parque Nacional do Iguaçu. Segundo o CEO Pablo Morbis, o espaço nasce para inspirar o cuidado com o planeta: “O futuro do oceano começa na nascente do rio”, resume ele — e o recado não podia ser mais oportuno. Durante o soft opening, o ingresso promocional sai por R$ 120, e os moradores de Foz pagam apenas R$ 30 na bilheteria, mediante comprovante. Crianças até 2 anos entram de graça; os ingressos infantis custam R$ 60, e as meias-entradas, R$ 75. O aquário funcionará todos os dias, das 9h às 18h30, com a última entrada às 17h. Inspirado no sucesso do AquaRio, o novo espaço promete consolidar Foz como vitrine do turismo sustentável no Brasil. Afinal, aqui, até o fundo do mar começa com o som das Cataratas.

Cadê a Praça?

Pois é. Andava distraído do mundo até que, num impulso de saúde, resolvi caminhar e passei pela Praça Naipi. Encontrei-a tomada por operários, baldes, escadas e rolos — todos passando massa corrida nas paredes. O antigo painel, aquele que dava alma ao lugar, ficou sepultado sob novas camadas de cimento. Barbaridade! Cheguei a ouvir comentários sobre obras por ali, mas não imaginei que fosse uma intervenção tão radical. Em Foz, quando o assunto é “tombamento” cultural, a ferramenta preferida não é a caneta — é a marreta.

Banditismo ou terrorismo?

Vivemos tempos em que até as palavras perdem o sentido. Discutem-se rótulos enquanto o crime avança pelas brechas da política. Chamar a ação das facções de “terrorismo” é premiar bandidos com diploma ideológico. Terrorista tem causa, ainda que distorcida; bandido tem lucro. São sanguinários que enriquecem à custa do medo, da extorsão e do sacrifício da população. Não lutam por ideal — sustentam quadrilhas que comandam o crime de dentro das cadeias, organizam milícias, assassinam inocentes e zombam do Estado. É triste, mas real. O terrorismo exige combate sem trégua; o banditismo, punição implacável — dentro da lei e da razão. O que não se pode é transformar criminosos em mártires. Falta cabeça sobre os ombros de muitos que nos representam. Bandido não precisa de ideologia, precisa de cadeia.

As novidades

Mudando de assunto… todos os dias ouço música — é um hábito e uma terapia. Na manhã desta terça (11/11), o maestro soberano, Tom Jobim, me lembrou: “Mesmo com toda fama, com toda Brahma, com toda cama, com toda lama… a gente vai levando.” Pois é. E voltando ao motivo do meu sumiço, ando feito professor Pardal: inventando uma emissora de rádio, TV e web. Um canal com música de muita qualidade, temas escolhidos a dedo, feitos para agradar, distrair e, quem sabe, acalmar esse “mundão véio”, cheio de sobressaltos e insanidades cotidianas.

Pura necessidade

O novo canal nasce com algumas missões: qualificar o som ambiente e projetar imagens dos nossos atrativos. Meu filhote criativo, Marquinhos (Marcus Vinícius), já apelidou de “TV Soninho” — “louca de boa” para cochilar depois do almoço. Mas a ideia vai além: criar um único espaço onde tudo o que produzimos — reportagens, documentários, textos e vídeos — possa ser armazenado e acessado facilmente. Hoje está tudo espalhado entre Instagram, Facebook, YouTube, WhatsApp e afins. Agora, o canal será um depósito vivo da nossa produção. Acesse, veja e opine. Em breve teremos programas ao vivo, como o lendário Mesa 18:30, no ar diariamente. Tudo em looping, com horários definidos. A Rádio/Web falará em vários diomas. Faremos o máximo que a tecnologia permitir. E seguimos, como diria o Tom: levando.

Rogério Bonato escreve com exclusividade para o Alamanaque Futuro