Entre o jogo sujo e o jogo limpo: política, fronteira e futuro de Foz

Do campo minado da pré-eleição às rotas mutantes do contrabando, passando pela educação no trânsito, novos voos, turismo inteligente e cultura de alto nível — um retrato crítico e bem-humorado da cidade em movimento. E, de quebra, um cineminha, com a exibição de um dos primeiros capítulos da lendária série Vigilante Rodoviário!

Jogo de queimada
Quem entende minimamente de política sabe: ano pré-eleitoral é terreno fértil para o veneno, servido em doses cavalares para dar dor de barriga em adversário. Ingênuo — ou imbecil — é quem leva a sério esses joguinhos sujos de tacar lama no oponente. Político que aposta nisso não chega a lugar nenhum. E como funciona? Simples: de olho na vaga, paga-se a certos veículos que topam o “serviço”. Meses depois, o mesmo autor da maldade jornalística bate à porta pedindo mais — agora para não publicar isso ou aquilo contra quem fez a encomenda. O joguete vira mordida, e a roda da hipocrisia continua girando. E assim, como dizia o outro, “lá nave vá”…

Apreensões recordes
Quase R$ 300 milhões em mercadorias apreendidas no primeiro semestre em Foz do Iguaçu. É o tipo de número que deixa contrabandista com azia e autoridade com sorriso na foto. Liderando a lista, os eletrônicos — R$ 79,9 milhões, sendo 91,7% em celulares. Atrás, os cigarros, que já foram o “carro-chefe” do crime fronteiriço, caíram para R$ 72,7 milhões. Talvez parte da população tenha finalmente “caído na real” sobre os males do tabagismo. Demorou. Mas antes que o leitor se anime, o cigarro eletrônico e sua fumaça colorida, já ganhou as fronteiras e mundo afora.

Destino das mercadorias
O povo sempre pergunta: “E o que fazem com essas apreensões?”. A resposta é menos glamourosa que a imaginação popular: parte vira sucata, parte vai a leilão, e outra é doada para entidades. Tudo previsto em lei, embora isso nunca impeça a fofoca de esquina. Neste semestre, além dos eletrônicos e cigarros, cataram drogas, bebidas alcoólicas e veículos. É a Receita Federal, junto com a turma da segurança, fazendo malabarismos na tríplice fronteira — enquanto o contrabando, como bom artista, tenta mudar o figurino para continuar no espetáculo. Impressionante como essa gente se adapta.

O mapa do contrabando
Se o contrabando fosse um aplicativo, a atualização seria diária. Em seis meses, foram 5,2 toneladas de drogas retidas, das quais 4,9 de maconha. O resto é um cardápio que inclui haxixe, cocaína e medicamentos ilegais. Os números são altos, mas as rotas se movem como água: encontram sempre um caminho. O contrabandista de hoje tem GPS, rede social e uma boa dose de cara de pau. Do outro lado, a vigilância segue firme, mesmo sabendo que é jogo de paciência. Aqui, no tabuleiro da fronteira, a Receita tenta xeque-mate em adversário difícil, que adora empatar o jogo.

Vigilante rodoviário
Foz recebe a Carreta do Cinema Rodoviário — programação educativa, nada de Mad Max, Motoqueiro Fantasma (sem cabeça) ou maratonas de Velozes & Furiosos. A ideia é outra: palestras e informações sobre respeito ao trânsito. Quando este colunista ainda era “criança pequena”, o que havia era o seriado “Vigilante Rodoviário”, com o inspetor Carlos e seu inseparável cão pastor-alemão, Lobo. Pois acreditem, conheci ambos, nos tempos em que morei em São Bernardo do Campo: o ator Carlos Miranda e o cachorro, treinado por um impagável barbudo chamado Martinelli, adestrador da Companhia de Cinema Vera Cruz. Carlos viveu saudável até os 91 anos, talvez por respirar o ar do bairro da Mooca (nos deixou em fevereiro deste ano). O carro-patrulha era um Simca Chambord “rabo de peixe” e a moto, uma Harley Davidson 1953 (foto principal). Carlos seguiu carreira como policial rodoviário do Estado de São Paulo e aposentou-se no posto de tenente-coronel PM.

Velório de Carlos Miranda, o 'Vigilante Rodoviário', será realizado na Alesp - Diário de Jacareí

Delícia de ver
As aventuras do Vigilante Carlos eram aulas de direção segura: nada de chinelo Havaiana, peito nu ou correr a mais de 160 km/h — sim, naqueles tempos boa parte das estradas não tinha limite de velocidade. Se resolvessem fazer um remake hoje, não faltaria coisa para “vigiar”. E quem lembra da música-tema pode cantar:
“De noite ou de dia, firme no volante, vai pela rodovia, bravo Vigilante! Guardando toda estrada, forte e confiante, é o nosso camarada, bravo Vigilante! O seu olhar amigo, é um farol que avisa do perigo, audaz e temerário, pra agir a todo instante, da estrada é o Vigilante, Vigilante Rodoviário!” Barbaridade!

Assita o primeiro episódio da série, claro, com a trilha de abertura!

Trânsito assassino
Vamos combinar: o “trânsito” não mata ninguém. Quem mata são os desatentos, abusados, bêbados e os que confundem volante com brinquedo. O Código de Trânsito Brasileiro define vias como espaço para pessoas, veículos e até animais — e, sim, carroças ainda circulam por esta bendita cidade. Você pode dirigir com cuidado, mas basta um “irracional” vir no sentido contrário e o estrago está feito. Um exemplo recente: uma idosa foi atropelada por um sujeito que decidiu empinar a moto na curva. Resultado? Ela machucada, ele com fratura exposta, ocupando ambulância, sala de cirurgia, leito hospitalar e meses de fisioterapia — tudo pago pelo SUS, ou seja, por nós. E não é exagero dizer: segundo o Ministério da Saúde, o trânsito brasileiro mata, em média, cerca de 32 mil pessoas por ano, mais do que muitos conflitos armados.

Números dantescos
Os números impressionam. Em 2023, o Brasil registrou mais de 600 mil acidentes de trânsito, com um custo estimado de R$ 50 bilhões ao sistema público de saúde e previdência, de acordo com o IPEA. Em Foz do Iguaçu, segundo dados do Detran-PR, foram 1.421 acidentes no último ano, com 27 mortes e centenas de feridos. Cada ocorrência grave não é só tragédia familiar — é gasto público, perda de produtividade e sobrecarga nos hospitais. Por isso, iniciativas como a Carreta do Cinema Rodoviário merecem atenção: educar hoje para que, no futuro, não precisemos contar vítimas e gastos como se fossem números de uma guerra silenciosa.

Educação resolve
Não é lenda urbana: muitos maus hábitos de motoristas foram corrigidos pelos próprios filhos. Quem viveu sabe — nos anos 70 e 80 era comum ver no painel dos carros um porta-retrato com a frase “Não corra, papai”. Crianças, no banco traseiro, davam bronca quando o pai jogava bituca de cigarro pela janela ou quando a mãe fazia barbeiragem. Estudos europeus mostram que a conscientização infantil influencia diretamente a redução de acidentes — e não é pouco: campanhas de educação no trânsito voltadas a crianças reduziram em até 20% os índices de imprudência entre adultos. É simples: a criança aprende cedo que velocidade é perigo e que semáforo fechado não é “sugestão”, é regra. A lição vale para tudo: educação é a base de qualquer mudança duradoura — e no trânsito, salva vidas.

Professores sempre bem-vindos
Curioso como a reação popular varia: quando o Legislativo anuncia a contratação de assessores, a gritaria é geral. Mas basta dizer que serão contratados professores e a cidade sorri — e com razão. A Câmara de Foz aprovou a criação de 100 vagas para professores da educação infantil, respondendo à alta demanda por matrículas. É um reforço essencial para manter a qualidade do ensino e a atenção às crianças no período mais decisivo da aprendizagem. Estudos mostram que cada real investido na primeira infância retorna até sete vezes mais em benefícios sociais e econômicos. Professor não é gasto, é investimento — e daqueles que, se fossem feitos com mais frequência, talvez tivéssemos menos motoristas imprudentes e mais cidadãos conscientes nas ruas.

Ai, os voos para Foz!
Poucos assuntos mexem tanto com o humor de quem vive ou visita Foz quanto a oferta de voos. É um sobe e desce que não se limita às pistas do aeroporto: novas rotas chegam com pompa e circunstância, e, quando a gente se acostuma, somem do mapa como se nunca tivessem existido. O pior é entender a lógica — se é que existe — das companhias aéreas. O Turismo, dizem os especialistas, vive 99% das conexões diretas e acessíveis. O 1% restante é pura sorte. E a sensação é de que, a cada temporada, estamos jogando um jogo em que as regras mudam no meio da partida.

Um sopro de esperança
A notícia da vez vem com ar positivo: voos diretos do Ceará, Distrito Federal e Rio de Janeiro para Foz e Curitiba, anunciados pela Gol e Latam. Mais do que facilitar a vida do turista, essas conexões reforçam a imagem da cidade como destino competitivo. É um alívio para operadores, hotéis e guias de turismo, que dependem de um calendário estável para trabalhar. Mas aqui entre nós, é preciso mais do que anúncios: é preciso garantir que as rotas sejam mantidas, que preços não virem barreira e que a promoção do destino acompanhe a oferta. Caso contrário, ficamos naquele velho enredo: muito marketing na estreia e silêncio na temporada seguinte.

Conexão é tudo
Um amigo do trade turístico costuma dizer: “A melhor campanha de promoção é um voo direto lotado”. Não adianta gastar milhões em feiras, folders e anúncios se o turista tiver que fazer malabarismos para chegar. Em Foz, a malha aérea sempre foi um termômetro da economia local: quando aumenta, hotéis, restaurantes e atrativos comemoram; quando encolhe, a cidade sente no caixa. É por isso que celebrar novos voos é justo, mas acompanhar a permanência deles é vital. Afinal, no turismo, como na aviação, não basta decolar — é preciso manter altitude.

A Urbia Cataratas e o Futuro
Quem esteve no Meeting Planner Experience, organizado pelo Visit Iguassu, saiu com a sensação de que um novo capítulo começa a ser escrito, de verdade, para o setor de eventos e turismo em Foz. A palestra do CEO da Urbia Cataratas, Mário Macedo Júnior, apresentou com clareza os projetos e obras previstos para o Parque Nacional do Iguaçu — e fez isso sem fogos de artifício ou promessas interplanetárias. Tudo no tom de quem prefere trabalhar em silêncio até entregar resultados concretos. É animador perceber que o nosso Patrimônio Mundial Natural está sob gestão que pensa no longo prazo e respeita a identidade do destino. Foz parece estar no rumo certo para se firmar como destino completo, capaz de conciliar natureza, estrutura e experiência. Este colunista promete voltar ao assunto com mais detalhes, porque o que foi publicado pelo Visit desperta não só curiosidade, mas confiança.

Mais entrega, menos marketing
No turismo, não basta ter um atrativo consagrado — é preciso mantê-lo vivo na percepção do visitante, com novidades que façam sentido e respeitem o que já existe. A Urbia Cataratas parece compreender bem essa lógica: menos holofotes antes da hora, mais foco em executar e apresentar quando está pronto. Essa postura pode render frutos importantes para a imagem de Foz no cenário nacional e internacional, especialmente num mercado em que destinos competem ferozmente por eventos, congressos e experiências exclusivas. Se as entregas acompanharem o planejamento, teremos mais do que belas Cataratas — teremos um produto turístico sólido, desejado e competitivo.

Bourbon Experience
De tempos em tempos, a cidade é presenteada com um sopro cultural de renovar os sentidos. No último sábado, a Rede Bourbon de Hotéis brindou hóspedes e frequentadores de seus restaurantes com um desses momentos raros: a presença magnética de Tony Gordon, uma das vozes mais marcantes do momento. No repertório, um passeio refinado que vai do jazz aos Beatles, de Joe Cocker a Bob Dylan, passando pela alma calorosa de Louis Armstrong — cada canção interpretada com emoção e um toque pessoal transformador. Ao lado de quatro músicos de altíssimo nível, apresentados como a “Gordon Family”, o artista entregou um sarau que foi mais que show: foi presente. Presente pelo Dia dos Pais, presente para a cidade, presente para quem sabe apreciar. E como se não bastasse, o encontro se estendeu aos restaurantes, onde um cardápio primoroso, renovado a cada temporada, completou a noite. É disso que falo quando digo que cultura e gastronomia, unidas, produzem memórias que não têm preço.