Trump mal representa seu país, o que dizer do mundo livre

O arranca-rabo só aumenta e com trocas de gentilezas (nem tanto) dos dois lados. O mundo afinal está de olho.

Líder do mundo… eleito por quem?

No calor da semana, a Casa Branca decidiu brindar o planeta com uma pérola: Donald Trump seria o “líder do mundo livre”. A declaração foi feita em coletiva, após Lula dizer à CNN Internacional que Trump “não foi eleito imperador do mundo”. A pergunta inquieta: houve algum plebiscito interplanetário? E quem contou os votos? Elon Musk? As democracias do hemisfério sul ficaram sabendo? Ou só valem as do Norte?

 

O ET bateu na porta errada

Se um disco voador pousasse hoje na Terra, e Donald Trump aparecesse para recepcionar os viajantes do cosmos, seria legítimo um protesto sideral. Se os ETs saudarem com “paz e prosperidade”, risco de deportação na hora. O “líder do mundo livre” talvez exigisse visto consular intergaláctico. Melhor seria se os extraterrestres buscassem refúgio na ONU ou, quem sabe, em Marte, onde reina menos vaidade e mais silêncio.

 

Entrevistas em looping

A entrevista de Lula à CNN Internacional apenas reforçou o que já havia dito à Globo, mas foi a reação de Trump que viralizou. Ao saber do conteúdo, teria passado do vermelho ao roxo em segundos. Convocou a imprensa, bateu no peito e bradou que é “presidente forte” e defensor da liberdade. A desculpa? O Brasil estaria sabotando empresas americanas com regras ambientais e digitais. Traduzindo: o agrotóxico deles vale mais que a floresta nossa.

 

Missão Brasília-Washington

O Senado brasileiro criou uma comissão temporária para acompanhar o embate comercial com os Estados Unidos. Parlamentares prometem ir a Washington ainda neste mês — se conseguirem o visto, é claro. Dado o humor do Tio Sam, melhor seria entrar por Tijuana, como turistas de mochila. A agenda inclui reuniões com parlamentares norte-americanos, mas o receio é que acabem numa audiência com a Receita Federal local.

 

Sanções e sonhos verdes-amarelos

A nova moda bolsonarista nos EUA é tentar sancionar ministros do STF e seus parentes que estudam ou moram lá. Segundo relatos vindos de Nova Iorque, há um plano velado: tensão nas relações para transformar imigrantes ilegais em perseguidos políticos. Vai que cola? Na cabeça dessa gente, Trump abriria as portas. Mas será que o “lobo do Alabama” acolheria brasileiros como refugiados? Parece mais roteiro de sitcom que de asilo sério.

 

A guerra exportada

O Brasil vive um momento crítico de polarização, agora internacionalizada. O entrevero com Trump criou novas trincheiras ideológicas. Em Foz do Iguaçu, isso é visível: há gente que já não se fala por política. Tudo vira pretexto para conflito — cesta básica, churrasco ou grafite na parede. A política virou religião, e o diálogo, heresia. O radicalismo é tão denso que até as torcidas organizadas do Palmeiras e do Corinthians parecem mais civilizadas.

 

O baile da desinformação

Entre ameaças de tarifaço, discursos inflamados e vídeos virais, o Brasil se vê atolado em versões contraditórias. A máquina de fake news voltou a girar com força. O “Trumpismo tropical” ainda ecoa em grupos de zap, enquanto o governo tenta manter a diplomacia em meio ao tiroteio digital. O Itamaraty acendeu vela para todos os santos e espera que a viagem dos senadores não vire crônica da embaixada anunciada.

 

A lógica invertida

Não deixa de ser irônico: Trump reclama de protecionismo ambiental e Lula é acusado de comunismo por querer regular redes sociais. No fundo, é o duelo das narrativas. De um lado, quem quer vender glifosato; do outro, quem quer um pouco de Amazônia de pé. Entre os dois, estamos nós — que pagamos a conta, assistimos a crise e torcemos para que um dia, ao menos, a política volte a ser instrumento de civilidade. Até lá, segura essa irmão!

 

Preta para sempre

O Brasil perdeu Preta Gil, aos 50 anos, após complicações de um câncer. Mulher preta, bissexual e fora dos padrões estéticos, foi mais do que filha de Gilberto Gil: foi voz própria, firme, sem medo de dizer o que pensava. Enfrentou racismo, gordofobia, homofobia — e devolveu tudo com arte e coragem. Cantora, empresária, produtora, apresentadora. Uma mulher de muitas frentes e causas. Merece aplausos em pé, não o escárnio covarde que circula nas redes. Há momentos em que o silêncio é mais digno que a ignorância.

 

Tropicália com atitude

Preta Maria Gadelha Gil Moreira nasceu na Tropicália, filha do exílio e neta da resistência. A sobrinha de Caetano e afilhada de Gal virou produtora antes de virar estrela. Aos 28, incentivada por Ivete Sangalo e Ana Carolina, se lançou nos palcos e se impôs — sem pedir licença. Criou a agência Mynd, foi voz ativa em campanhas e enfrentou haters com altivez. Nos EUA, buscava tratamento experimental, mas deixou aqui seu legado: ser mulher, preta, artista e política não era escolha — era urgência.

 

De Gil para Gil, com amor

Preta Gil deixa um legado que vai além de sua própria obra: seu filho, Francisco Gil — o Fran, integrante do trio Gilsons — é hoje símbolo da nova geração da música brasileira. Neto de Gilberto Gil, herda o DNA da ancestralidade, do afeto e da pluralidade. Preta sempre foi elo entre o passado e o futuro, entre a Tropicália e os tempos digitais. De Drão a Fran, de Gal a Ivete, de Salvador ao mundo, sua história é canto que não se cala. Preta se foi, mas o som continua. E muito ainda vai ecoar.

 

A voz que fala com Foz

Hoje, 22 de julho, a Rádio Cultura de Foz do Iguaçu celebra 69 anos! Uma marca que se confunde com a própria história da cidade. Desde seus primeiros dias, foi muito mais que uma emissora: foi fórum, palco, sala de aula e confessionário coletivo. No auditório da antiga sede na Rua Dom Pedro II, desfilavam músicos, calouros, políticos, poetas e professores. Era lá que a cidade se ouvia — e se reconhecia. Uma rádio que virou espelho e farol de Foz.

 

Microfone aberto para a história

Cheguei em 1980 e logo vi que a Rádio Cultura não era apenas uma emissora: era um organismo vivo. Prestes a completar 24 anos, a rádio pulsava na esquina do centro, perto do antigo Hotel Cassino, e fervilhava com os ecos da cidade. Os programas lendários ainda eram comentados nas ruas, e as paredes respiravam cultura. Nada passava despercebido por seus microfones. A Rádio era o diário oral de Foz, no ar e na memória dos iguaçuenses.

 

Era uma vez o rádio-jornalismo

Naquele tempo, tudo acontecia — e quase tudo passava pelo microfone da Cultura. Fui testemunha da agitação jornalística diária, dividindo a lida entre a redação e a correspondência para jornais. A rádio era movida a urgência, talento e notícia. Sob a batuta de Rosa Cirillo, Antoninho Cirillo e do gerente Ennes Mendes da Rocha, despontavam nomes como Selmo Jandir Aragão, Compadre Santana, Anésio Gonçalves, Salete Siqueira e muitos outros profissionais. Era o rádio feito de verdade, no calor da informação.

 

Um símbolo que resiste

A Rádio Cultura mudou com os tempos, mas nunca perdeu o fôlego. Continua presente na formação da opinião pública, na defesa das causas locais e na valorização da cultura. Já virou capítulo de um livro meu, mas deveria ser volume inteiro — tal o peso histórico que carrega. Hoje, mais do que nunca, ela é patrimônio sonoro da cidade. Viva a Rádio Cultura de Foz do Iguaçu! E viva os companheiros que a mantêm firme, honrando o nome e a casa.

 

Trânsito, poeira e protesto

Nem bastam os desvios, a lentidão e a poeira das obras na Perimetral e na BR-469. No último domingo, em plena alta do movimento, funcionários de uma loja de artesanato realizaram um protesto no trecho em obras. O motivo é legítimo — ninguém duvida dos prejuízos e da frustração —, mas a escolha do momento e do local levanta dúvidas. Protestar enquanto operários trabalham pesado, justamente num raro domingo de avanço nas frentes de serviço, soou contraditório. A cobrança por celeridade é justa, mas perder a cabeça não acelera obra. E nem resolve engarrafamento.

 

No fio da arte e do asfalto

Na Avenida das Cataratas, bem na esquina do Restaurante China, um artista de rua transforma segundos de semáforo em espetáculo. Com corda e tochas em chamas, faz do tempo vermelho sua tenda de circo. A performance impressiona — sobretudo pela coragem. Mesmo com raras moedas recebidas, não desiste. Persiste. Mas há quem se preocupe: e se uma emergência exigir passagem? E se a tocha rolar sob um ônibus lotado? A arte pede espaço, sim, mas também diálogo com a segurança. Esta coluna aplaude o talento e registra os alertas enviados por leitores atentos.

 

Até a próxima esquina

Chegamos ao fim de mais uma coluna, cruzando temas quentes, frios e à meia-luz — como as manhãs de inverno em Foz. Entre o vaivém do trânsito, as brasas políticas e as perdas que nos comovem, seguimos escrevendo a cidade por linhas tortas, mas verdadeiras. A você, leitor, nosso agradecimento pelo olhar atento, pelas mensagens, pelos ecos. Que o início da semana traga um bom café, boas ideias e a paz possível — mesmo que por breves minutos no sinal fechado. Até amanhã!