Foz do Iguaçu e a vida bem no meio da pressão comercial
Em sua coluna Rogério Bonato comenta o efeito psicológico do tarifaço e a tensão que isso causa na região trinacional
Foz no olho do furacão
Na crônica do comércio global, quando Trump decide brincar de xerife — e o Brasil vira cenário de bangue-bangue comercial, eis que existimos. Você aí, leitor, pode até perguntar: por que tanta análise internacional numa coluna que deveria falar dos buracos nas ruas? A resposta é simples. Estamos no meio da encrenca. Enquanto exportamos grãos e energia, importamos eletrônicos, turistas, impostos e agora, tarifas de 50% dos Estados Unidos. A política do mundo entra pela ponte e pelo aeroporto, senta à mesa do Mercosul e toma chimarrão com a gente. Trump, o xerife das galáxias, sacou seu revólver tarifário e disparou contra o Brasil — e, sem querer, acertou Foz também. Isso quando não faz insinuações sobre terrorismo. Não será de admirar caso mande nos invadir, como anda ameaçando fazer em outros territórios. A nossa sorte é que 99% daquilo que fala, é da boca pra fora.
A resposta do Brasil: entre a OMC e a marreta
Lula preferiu começar pela diplomacia: vai acionar a OMC. Mas também assinou decreto que permite retaliar. O Brasil tem ferramentas, mas precisa saber quando usá-las. Retaliar agora pode parecer provocação, mas recuar seria sinal de fraqueza. Uma coisa é certa: Foz do Iguaçu vai sentir. Porque cada decisão em Brasília ou Washington chega aqui antes do que a próxima frente fria. E, diferentemente do clima, essa tempestade não tem previsão de passar tão cedo.
Briga de gigantes
Como sempre, quando os elefantes brigam, quem sofre é a grama. O Brasil, mesmo com superávit comercial com os EUA, virou alvo. E não é por falta de boas relações — é excesso de política interna misturada com geopolítica. Trump quer agradar seus eleitores e mostrar força. E o Brasil virou exemplo prático. Foz do Iguaçu, que deveria ser reduto da diplomacia sul-americana, agora virou palco de tensões que têm mais a ver com o Alabama do que com Assunção.
Trump versus Pix: um duelo insólito
Parece piada de salão, mas o presidente dos EUA está investigando o Brasil… por causa do Pix! Isso mesmo. O Pix, criado pelo Banco Central em 2020, virou alvo de uma investigação de “barreiras ao comércio digital”. Segundo o embaixador americano, o Brasil favorece seus próprios sistemas. Seria o mesmo que o Brasil reclamar que o FedNow não aceita pagamento de pastel da feirinha em reais. A diferença? Aqui o Pix é de graça e funciona. Lá, o sistema cobra taxa até para transferir elogio.
O prefeito de São Paulo deu pito no Trump
Enquanto o Itamaraty redige notas suaves e Lula só pensa em recorrer à Organização Mundial de Comércio, o prefeito de São Paulo resolveu partir paro ataque. Ricardo Nunes, que costuma falar baixo, subiu o tom contra Trump e suas tarifas sobre o etanol, dizendo que a medida prejudica diretamente o Estado que mais exporta para os EUA. É como se o síndico do prédio mandasse o dono do prédio vizinho parar de jogar lixo no seu quintal. E, nesse caso, o lixo vem tarifado e com sotaque texano. O caso da Rua 25 de Março é outra piada, mas fica para depois.
Etanol com gostinho de cereja
O Brasil decidiu aumentar as tarifas sobre o etanol importado dos EUA, e Trump não gostou. Acusou o país de práticas comerciais desleais. Curioso é que essa decisão do Brasil foi técnica, baseada na proteção da produção nacional. Mas para Trump, toda decisão soberana que não favoreça os EUA é desleal. O mais irônico? Boa parte do milho que vai para o etanol americano é subsidiado. Aí é jogo com juíz comprado, bandeira americana e replay editado.
A vingança do agro
Setores como o do suco de laranja, do aço e da Embraer já estão suando frio. As novas tarifas ameaçam bilhões de dólares em exportações. Enquanto isso, produtores rurais e industriais se perguntam: “Cadê a frente parlamentar do agro?”. Alguns estão mais preocupados com o STF do que com os contêineres encalhados nos portos. Se a crise persistir, até o gado vai pedir passaporte e cidadania paraguaia para escapar das tarifas.
“Estamos fazendo isso porque eu posso”
Trump, com sua eloquência de série da Netflix, declarou: “Estamos fazendo isso porque eu posso”. Pronto. Eis a doutrina internacional do século XXI: o voluntarismo tarifário. Nada de tratados, regras ou previsibilidade. O mundo virou um reality show com muros alfandegários. E o Brasil que lute. Porque se ele pode, nós também podemos. Mas o preço da coragem, às vezes, é a conta de luz subindo e o dólar no patamar dos R$ 6.
Trump não é amigo, é conhecido
Em entrevista, Trump fez questão de dizer que “não é amigo do Bolsonaro”, apenas o conhece. Um conhecido que impôs tarifas de 50% e ainda chamou de “boa pessoa”. Com amigos assim, o Brasil não precisa de sabotadores. É quase um abraço de tamanduá. Daqueles que tiram o ar e ainda culpam o STF. No fim, o Brasil virou moeda de troca no xadrez eleitoral de um país que cobra pedágio até para exportar banana. E deu foi uma bola nas costas de Bolsonaro, sem saber que o tão malfadado PIX começou a valer em seu governo. O que é isso compadre?
E o Eduardo? Foi pra Disney com rancho e tudo
Eduardo Bolsonaro anunciou que vai morar temporariamente nos EUA. Oficialmente, para “lutar por sanções contra Moraes” e “convencer Trump a ajudar os patriotas”. Na prática, parece mais um intercâmbio com a extrema direita global do que um exílio voluntário. Acontece que o deputado não está em exercício e deve passar quatro meses por lá. Se conseguir manter o visto, já é vitória. Afinal, os americanos são ótimos para aplicar tarifas — e deportações. Só faltava essa, o Eduardo receber a visita da polícia de imigração.
O efeito Rumble e Truth Social
Parte da investigação americana envolve o banimento de plataformas como Rumble e Truth Social do Brasil, por decisões do STF. Trump e seus aliados dizem que isso é censura. Já o STF diz que é cumprimento da lei. No meio, estamos nós: consumidores, eleitores, exportadores e importadores. Quando plataformas digitais viram motivo de guerra comercial, é sinal de que a democracia virou produto de prateleira. E não tem cupom de desconto.
Moraes no radar da CIA?
Não é teoria da conspiração: a Lei Magnitsky pode ser usada contra Moraes, segundo declarações de parlamentares americanos. A lei permite sanções a autoridades que violem direitos humanos. A base da acusação? Decisões judiciais brasileiras sobre fake news. Ora, se a moda pega, logo teremos a Suprema Corte sendo julgada por júri popular em Iowa. A soberania nacional é assim tratada, que barbaridade.
Turismo sob tensão
Com o dólar nas alturas e o clima político internacional azedo, o turismo em Foz sente os ventos da tensão. Dizem que há menos americanos desembarcando, e, mais brasileiros se perguntando se vale a pena comprar uma câmera fotográfica ou um tênis na fronteira. Indiretamente, guerra tarifária poderá respingar nos free shops, nos receptivos e até no taxista da rodoviária. Na próxima temporada, o maior atrativo pode ser o passeio guiado entre tarifas, taxas e tretas internacionais.
Temporada de fila, poeira e promessa
Voltando para o assunto Foz do Iguaçu: férias escolares, alta temporada e trânsito parado. A BR-469 virou um estacionamento a céu aberto, cortesia das obras de duplicação que avançam no ritmo do turismo a cavalo. Os visitantes chegam maravilhados com as Cataratas e saem irritados com o congestionamento. Entre buzinas e desvios, surge a notícia: o governo estadual anunciou R$ 60 milhões em investimentos. Que ótimo. Mas antes de prometer, que tal terminar a duplicação da BR-469 sem que a paciência do povo escorra pelos bueiros da campeã paranaense em saneamento?
Obra tem, mas é preciso conferir
A boa nova da semana veio em forma de cifras: R$ 40 milhões para asfalto urbano, R$ 11 milhões para recuperar o terminal da Vila Portes, e mais R$ 9 milhões para a estrada da Vila Bananal, onde a relação investimento/habitantes precisa ser melhor analisada. A não ser que existam planos para a área, que desconhecemos (mais adiante, nesta coluna). E pensar que tudo isso coube em apenas uma visita do prefeito à capital. O General Silva e Luna, com sua disciplina de quartel, trouxe a verba no bornal. Aliás, ele está conseguindo converter o governo do Estado no maior parceiro da história, depois de Itaipu, é claro. Falando sério, em raras ocasiões a atenção foi tão dispensada. Não aconteceu assim até na relação Dobrandino-Sâmis-Requião.
A política do milagre parcelado
Em ano pré-eleitoral, promessa vira moeda forte. Os secretários estaduais abriram as portas, os deputados aliados apertaram mãos, o governador mandou lembranças — e Foz ganha pacotes de obras semanalmente! O novo Centro Cívico, por exemplo, vai acabar com aluguéis e reunir secretarias. Parece ótimo. Mas vamos lembrar: prometer é fácil. Fazer, nem sempre. Já vimos rotatórias virarem muretas e avenidas de mão dupla se tornarem ruas sem saída. O eleitor não quer mais discurso “apenas” bonito.
Bubas & Bananal
Entre os projetos estruturantes, destaque para a reurbanização do Bubas, uma obra importante, com impacto direto na vida de quem precisa. O que não pode é Foz virar vitrine de promessas e depósito de frustrações. Ratinho & Hussein Bakri que cuide bem disso. A cidade lidera ranking de saneamento, mas se depender dos repasses, não consegue liderar o próprio cronograma de obras. Vai ficar feio, muito feio, se o governo do Paraná entregar tudo — menos o principal. Sobre a pavimentação da estrada da Vila Bananal, há rumores que o Batalhão do Exército poderá se mudar para lá, com instalações novíssimas, construídas em parceria com a iniciativa privada, interessada em reurbanizar a atual área no centro da cidade, incluindo as vilas militares espalhadas pelo centro. O que permanecerá intocável é a mata, o Central Park iguaçuense. Como acabei de escrever, “há rumores”. Enquanto uns querem readequar o plano urbanístico, outros preferem transformar o edifício histórico do “Batalhão de Fronteiras” em Museu Da Infantaria, reunindo peças e artefatos do mundo inteiro, mais restaurantes, etc. É quando o Exército em Foz cobrará ingressos, como no Forte de Copacabana.
Entre a fumaça e a esperança
A semana termina — pelo menos no calendário emocional — e o frio voltou a Foz com aquele jeitinho serrano, convidando ao recolhimento, à conversa mansa. A coluna agradece a companhia atenta dos leitores que resistem ao calor dos escândalos e ao frio da realidade com bom humor e pensamento crítico. Que o fim de semana traga calor humano, café passado no coador e, se possível, um fogão à lenha sem fumaça nos olhos. Nos reencontramos ainda manhã, próxima edição, porque jornal bom é o que circula até no sábado! Até!
Rogério Romano Bonato escreve com regularidade para o portal Almanaque Futuro