Foz do Iguaçu, 111 anos: muitos tempos, uma só cidade
Um local construído por eras geológicas, povos migrantes, disputas políticas e histórias ainda em aberto.
Muito antes da cidade, do rio com nome em guarani, das fronteiras traçadas em mapas e dos turistas em fila para ver as Cataratas, havia só o tempo. E pedra. E água. O que hoje conhecemos como Foz do Iguaçu era, há centenas de milhões de anos, parte da supermassa continental conhecida como Gondwana. Mais precisamente, no que seria o centro-oeste desse imenso bloco de terra que unia o que viria a ser a América do Sul, África, Índia, Austrália e Antártida.
A história geológica da região é marcada por rupturas profundas. As placas tectônicas se movimentaram, rearranjando oceanos e continentes. No período Ordoviciano, há cerca de 480 milhões de anos, o território foi empurrado em direção ao litoral do antigo Golfo de Pantalassa e, em determinados momentos, esteve parcialmente submerso. A superfície era dominada por extensas camadas de basalto, rocha vulcânica formada por erupções intensas, cuja presença hoje é visível em cada degrau das Cataratas do Iguaçu.
Esse passado submerso e vulcânico moldou a paisagem que conhecemos. Entre 200 e 130 milhões de anos atrás, o território compunha a Pangeia, supercontinente que começou a se fragmentar até dar origem ao que hoje é o Brasil e toda a América do Sul. As fraturas geológicas que acompanham esse processo foram decisivas para o desvio do leito do rio Iguaçu, que originalmente corria para o sul-sudoeste. Uma ruptura no solo fez o rio dobrar para noroeste, descrevendo uma curva em forma de “U” e criando, em seu salto, as quedas d’água que hoje deslumbram o mundo.
A sequência de degraus basálticos esculpidos pelas fraturas, combinada ao enorme volume hídrico da bacia do rio Iguaçu, deu origem às Cataratas como conhecemos. Um fenômeno natural milenar, em constante erosão e transformação, que antecede qualquer presença humana documentada.
Foi só há cerca de 5 milhões de anos que a configuração atual da região se consolidou, e há aproximadamente 2,5 milhões de anos que surgiram os primeiros hominídeos no Planeta. A nossa espécie, o Homo sapiens, é recente nesse quadro: tem, segundo a ciência, pouco mais de 200 mil anos. No que hoje é o sul do continente americano, os primeiros registros de ocupação humana remontam a cerca de 12 a 15 mil anos — o que situa os primeiros habitantes da região de Foz em um contexto arqueológico ainda em processo de escavação e estudo.
Sabemos que esses grupos viviam em harmonia com os ciclos naturais, seguindo cursos de rios, vivendo da caça, pesca e coleta. Eram nômades, até que, aos poucos, surgiram formas mais complexas de ocupação. Ainda assim, o tempo da natureza foi, por muito mais tempo, o único soberano nesta terra.
Antes de ser ponto turístico, cidade de fronteira ou palco de disputas políticas, Foz do Iguaçu foi uma construção paciente da Terra. Seu solo guarda memórias geológicas, fósseis e marcas de um mundo que já não existe, mas que continua nos sustentando.
Conhecer essa origem é fundamental para compreender a grandiosidade do presente — e as responsabilidades que temos sobre ele.
Acesse agora o PDF completo e viaje por essa Foz que pulsa entre o ontem e o amanhã.