Diplomacia e equilíbrio binacional: a força da cooperação que gera energia

Governança compartilhada e paritária entre Brasil e Paraguai garante estabilidade à usina e inspira novos modelos de cooperação transfronteiriça.

Mais do que uma usina, Itaipu é uma construção diplomática. Sua existência só foi possível graças à assinatura, em 26 de abril de 1973, do Tratado de Itaipu, que estabeleceu as bases para a gestão compartilhada do potencial hidráulico do Rio Paraná entre Brasil e Paraguai.

Desde então, a empresa é exemplo singular de governança binacional paritária — uma experiência de engenharia política tão robusta quanto a obra física que ergueu a hidrelétrica.

Rompendo a barreira de meio século, a usina segue operando com rigor técnico, equilíbrio institucional e estabilidade diplomática, sendo conduzida de forma igualitária por dois países que compartilham responsabilidades, direitos e obrigações. É esse modelo que garante, dia após dia, a geração de energia, a proteção dos recursos naturais e o convívio fraterno na região de fronteira.

Paridade em todas as esferas
A estrutura administrativa de Itaipu é composta por duas diretorias executivas paralelas — uma nomeada pelo Brasil e outra pelo Paraguai —, além de um Conselho de Administração e um Conselho Fiscal, ambos com igual número de representantes dos dois países. Todas as decisões estratégicas precisam de consenso, não havendo voto de minerva.

Essa paridade se estende também à operação técnica, aos contratos de fornecimento de bens e serviços, aos projetos socioambientais e à definição do orçamento. O modelo é baseado na confiança mútua e exige diálogo constante entre as partes — inclusive para mediar interesses distintos no uso da energia produzida, na destinação de recursos e na condução de obras e investimentos.

Com dezenas de milhares de funcionários que já passaram por seus quadros, Itaipu formou gerações de profissionais binacionais, muitos dos quais atuam em áreas espelhadas nos dois lados da fronteira, reforçando a integração entre os sistemas técnicos, jurídicos e questões culturais.

O momento da revisão do Anexo C
Entre 2023 e 2024, Itaipu ingressou em uma de suas fases mais estratégicas: a revisão do Anexo C do Tratado, que trata das bases financeiras e comerciais da usina. O documento, que completou 50 anos, estabelece como a energia é dividida, precificada e paga entre os países, e como os custos da obra e operação são amortizados.

Com a quitação da dívida histórica da construção, em 2023, abriu-se uma nova etapa de diálogo para redefinir a tarifa da energia, redistribuir os benefícios da produção e estabelecer novos critérios de reinvestimento — especialmente em áreas como inovação, infraestrutura regional e segurança hídrica. Essa negociação envolve os governos federais dos dois países, os órgãos energéticos nacionais (MME, Eletrobras e ANDE), parlamentares e setores da sociedade civil, e vai moldar o papel de Itaipu nas próximas décadas.

Um exemplo de integração institucional
A diplomacia energética de Itaipu é um modelo observado internacionalmente por sua capacidade de produzir ganhos compartilhados sem anular soberanias nacionais. A gestão conjunta do rio, da energia e das políticas socioambientais mostra que é possível operar grandes empreendimentos com cooperação e transparência.

Em fóruns como a Unesco, ONU-Água, Mercosul e Banco Mundial, Itaipu é citada como caso exitoso de governança transfronteiriça, capaz de lidar com desafios complexos como a escassez hídrica, a transição energética e o desenvolvimento regional integrado.

Ao completar meio século de funcionamento institucional ininterrupto, Itaipu reafirma que sua principal energia é o acordo — não apenas técnico, mas humano. Uma usina feita de negociações, pontes e compromissos. Porque quem governa um rio com dois donos, governa com sabedoria.

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