A formação do Lago de Itaipu e a ousada Operação Mymba Kuera

A operação colocou em prática a preparação de vários anos e é considerada um ponto de virada, afinal, com a formação do reservatório, Itaipu Binacional se impôs entre dois contextos, o desenvolvimento e o meio ambiente.

Os grandes e sucessivos eventos de Itaipu foram acompanhados pelo mundo. Tudo o que acontecia era proporcionalmente muito maior que em outras barragens ou em grandes demandas da construção civil. Foi assim nas sete fases programadas de construção, da escavação do canal de desvio até a operação das 20 unidades geradoras.

Um dos pontos mais significativos aconteceu em 20 de outubro de 1978, na explosão de duas ensecadeiras, criando o Canal de Desvio, abrindo o caminho para a construção da barragem principal, barragem lateral direita, barragens de terra e de enrocamento e vertedouro. A importância da etapa é celebrada atualmente como o Dia do Barrageiro. Os então presidentes do Brasil, Ernesto Geisel, e do Paraguai, Alfredo Stroessner, acionaram juntos a chave para iniciar a explosão. No conjunto de eventos, assinaram o contrato para a compra das primeiras 18 unidades geradoras de Itaipu.

Tornou-se, de certa forma comum, os moradores de Foz do Iguaçu irem até uma posição mais alta e próxima da usina, na BR 600, e, lá, vislumbrarem a movimentação de caminhões gigantes, gruas despejando concreto e aos poucos, as armações de ferro serem preenchidas, até formarem a “crista da barragem”, o ponto mais alto da usina. Foi uma ação ininterrupta com grande aparato de iluminação para as tarefas noturnas. A rodovia de 6k foi construída para dar suporte às obras e hoje se chama Tancredo Neves.

Dois dias antes da data prevista, em 13 de outubro de 1982, as comportas da estrutura de controle de desvio, foram baixadas, bloqueando o curso do Rio Paraná, e com isto, originando a formação do reservatório. Iniciou-se então, uma das atividades mais emblemáticas da história de Itaipu e que muitos consideram fundamental para o início da era ambiental.

Apesar do enchimento das margens, cobrindo vilarejos e obrigando pessoas a se mudarem para localidades distantes, e dos dias contados para o desaparecimento das Sete Quedas, a formação do Lago de Itaipu marcaria uma virada. Itaipu Binacional se impôs entre dois contextos históricos: o desenvolvimento e o meio ambiente, por meio de um programa de cuidados com a natureza jamais visto em obras de hidrelétricas e que, com o passar dos anos, recomporia o que fora destruído em meio século de colonização desordenada. Iniciou-se também a fase mais ousada da Operação Mymba Kuera.

Em verdade, as providências começaram, sete anos antes, com a realização projetos e inventários, coletas, análises e classificação de espécies animais e vegetais, bem como obras em viveiros, cuidados com a arqueologia e, com os habitantes que seriam transferidos.

A iniciativa de “pegar-bichos”, em suas fases, contou com engenheiros florestais, médicos veterinários, agrônomos, biólogos, zootécnicos, além do emprego de mobilização e logística, utilizando marinheiros, policiais militares e muitos equipamentos como veículos, embarcações e helicópteros para atender 1.350 km² da área do reservatório, nas duas margens. Primeiro foi implantado o Refúgio Biológico Temporário de Alvorada, com cerca de 10 hectares de florestas, em Alvorada do Iguaçu, depois o Refúgio Biológico de Bela Vista, abrigando 2.600 hectares próximo ao canteiro de obras.

Mas, em 13 de outubro de 1982, em condições meteorológicas muito desfavoráveis, 11 bases operacionais entraram em alerta para receber as 33 equipes se deslocando pelas estradas e locais que seriam cobertos pelas águas, iniciando uma tarefa ímpar. Embarcações partiam e regressavam o dia todo nas tarefas de resgate, envolvendo quase mil pessoas, somadas aos institutos, empresas especializadas, consultorias, laboratórios, universidades e organismos oficiais.

O saldo, além da quantidade de amimais resgatados, foi a dimensão do respeito com as causas naturais e como fora ampliado nos anos vindouros, no trabalho de perpetuação de muitas espécies em risco de extinção, e como esse trabalho povoaria uma nova floresta, interligando a mata natural interrompida pela ação colonial e desbravadora. Com o Lago de Itaipu, as matas ciliares, o plantio de milhões de árvores e, o Corredor da Biodiversidade do Rio Paraná.