A transformação de Foz do Iguaçu com o início da construção de Itaipu
A explosão demográfica superou todas as estimativas e os povoados antes distantes, se tornaram bairros e alguns mais populosos que cidades.
Vários relatos dão conta de uma imensa cortina de terra vermelha pairando sobre Foz do Iguaçu. Quem migrava ou simplesmente queria conhecer a cidade nos anos 70, de longe, avistava um cogumelo de poeira. Isso era causado pela intensa movimentação de veículos, construções e pela expansão do perímetro urbano.
Foz do Iguaçu saiu de 1970 com 33.970 habitantes e chegaria em 1980 com 136.352 moradores, um aumento de mais de 300%. Havia gente de todos os estados brasileiros em busca de uma vaga na “obra”, assim simplificavam. Já a demanda por mão-de-obra provocava filas imensas nos centros de triagem dos consórcios.
Entre 1978 e 1981, até 5 mil pessoas eram contratadas por mês. Ao longo da obra, em função do extenso período de construção e da rotatividade de funcionários, somente o consórcio Unicon cadastrou cerca de 100 mil trabalhadores.
No pico da construção da barragem, Itaipu mobilizou diretamente cerca de 40 mil trabalhadores no canteiro de obras e nos escritórios de apoio no Brasil e no Paraguai. Estima-se o número pode ser multiplicado duas vezes, levando em conta a rotatividade.
Quem não conseguia uma vaga de trabalho na “usina”, em geral, permanecia, atuando na construção civil, comércio, hotelaria e nas atividades informais fronteiriças. A migração forçou investimentos em moradias, mais de 9 mil foram construídas nas duas margens.
Na década de 60, havia oito escolas municipais em Foz do Iguaçu e mais nove escolas foram criadas pelo município, duplicando o número em apenas uma década.
E este cenário de crescimento de escolas continuou na década de 80 com mais 14 unidades. Os números do transporte de materiais até a obra eram absurdos, mobilizando mais de 20 mil caminhões.
Ocorreram modificações no transporte público e na área de segurança, evidente o aumento no índice de ocorrências. Por meio de um programa, o governo federal financiou obras de infraestrutura em Foz, pois ainda não poderia utilizar recursos da Itaipu. Isso ajudou muito nas demandas administrativas do prefeito Clóvis da Cunha Viana.
Surgiram Bairros como o São Francisco, Morumbi, Portal da Foz, e várias localidades especialmente ao longo da bacia hidrográfica do rio M’boicy, incluindo todos os seus afluentes, os arroios Jupira, Ouro Verde, Festugato e Monjolo. Também houve loteamentos em vários pontos das bacias dos rios Mathias Almada, Pé-Feio, Bela Vista, Carimã, Tamanduazinho e Tamanduá. Locais já existentes foram ampliados como o Porto Meira, Jardim São Paulo e Vila Yolanda, enfrentando grandes transformações e, apesar dos investimentos públicos, a precariedade era gritante sobretudo em épocas de chuvas, com os veículos necessitando de correntes em volta dos pneus para suplantar o lamaçal.
Durante este período de obras, ocorreu um aumento de estabelecimentos comerciais, industriais e prestadores de serviços, bem como as residências passaram a ser ligadas por rede de esgotos, abastecimento de água e os números telefônicos começaram a requerer a impressão de “catálogos”. Foz do Iguaçu foi inserida na condição de um dos municípios de maior crescimento do Paraná naquele período.
Um aspecto interessante, com as linhas públicas de transporte limitadas, as empreiteiras que atuavam na construção da usina, transportavam os trabalhadores, já identificados como “barrageiros”, em vagões rebocados por caminhões, congestionando os percursos em determinados horários.
No setor Oeste da cidade, no trecho que compreende a zona primária da Ponte da Amizade, desenvolveram-se as Vila Portes e Jardim Jupira, com o atendimento ao setor de exportações, bem como na oferta de gêneros que não eram produzidos no Paraguai.
Assim iniciou-se o “ciclo das compras”, intensificando a modalidade de transporte transfronteiriço e suas anomalias, como o contrabando de mercadorias “importadas” da Ásia, Europa e Estados Unidos, e, que passaram a ser levadas para cidades como São Paulo e Rio de Janeiro.
Em Itaipu, o processo de seleção era realizado em vários locais, mas o complexo onde hoje há o Ecomuseu era o mais movimentado. Além dos locais de entrevistas havia dormitórios e serviço de refeições. Pré-selecionados, em vias de conseguir emprego, utilizavam o local como uma casa de passagem, até se alojarem em edifícios na área da barragem, hoje convertidos em espaços de inovação, a exemplo do Parquetec.
As “vilas” de Itaipu concentravam os trabalhadores efetivados e que se submetiam à requisição de imóveis. Eram locais muito organizados, com policiamento próprio, escolas, atendimento médico e hospitalar, clubes e regras para a habitação, como fossem outras cidades. A Binacional controlava inclusive o trânsito local.