Conferência de Estocolmo ajudou a moldar projetos ambientais de Itaipu

Provavelmente, nos dias atuais, uma obra como a Itaipu Binacional dificilmente seria realizada, e por diversos motivos, a começar pela percepção ambiental. Qualquer esboço similar causaria imediata reação mundial.

A ONU – Organização das Nações Unidas, convocou o mundo para uma primeira conferência ambiental e contou com a adesão 113 países, incluindo o Brasil. Foi considerado um marco por apresentar o balanço do impacto humano global, iniciando assim, um diálogo paradoxal: o desenvolvimento e a relação com o meio-ambiente, ou como realizar o crescimento econômico sem ferir a natureza e garantir o bem-estar humano. As diretrizes eram proteger os recursos naturais e melhorar a qualidade do ambiente humano, remediando e prevenindo a sua deterioração.

Na Conferência de Estocolmo nasceram temas como a Educação Ambiental e foi a primeira vez que a palavra “sustentabilidade” foi pronunciada e, muito ouvida. A conferência aconteceu entre os dias 05 a 15 de junho de 1972; iniciou-se, com ela, a escalada para a construção da política ambiental em escala mundial.

E como o Brasil, no apogeu do seu “milagre econômico”, construindo grandes obras de engenharia, abrindo estradas na Amazônia, e, permitindo a expansão de pastagens e lavouras, se posicionaria em encontro tão importante? O país roubou a cena, dentre outras, falando de Itaipu, a solução para a sua matriz energética e de seu vizinho e sócio, o Paraguai.

A delegação brasileira foi chefiada pelo Ministro do Interior General José Costa Cavalcanti e os componentes se mostravam não muito interessados em assinar a Declaração de Estocolmo. Com o governo federal empreendendo tantas iniciativas, falar em reduzir o crescimento estava fora de questão. Os representantes chegaram à Suécia com o seguinte pensamento: “se os países ricos não quisessem as indústrias por causa da poluição, todas elas podem se transferir para o Brasil”. Costa Cavalcanti disse: “desenvolver primeiro e pagar os custos da poluição depois”. A frase se tornou célebre.

O rebuliço brasileiro mexeu com a opinião pública mundial e na tentativa de minimizar os danos, o presidente Emílio Garrastazu Médici instituiu a primeira entidade brasileira em defesa do meio-ambiente, a SEMA, vinculada ao Ministério do Interior e responsável pela execução de ações de proteção ambiental. O professor da USP e ativista Paulo Nogueira Neto, assumiu o cargo de Secretário Nacional de Meio Ambiente, em 1974.

O professor Paulo via em Itaipu a possibilidade de um grande laboratório de prestar contas com a Natureza, elogiando em diversas oportunidades o Plano Básico de Conservação do Meio Ambiente, aprovado pela Resolução RDE-119/75, com a adoção de medidas mitigadoras compensatórias.

Paulo mantinha uma certa relação com Foz do Iguaçu desde a década de 40; ao passar pelo aeroporto (onde hoje é o Gresfi), para visitar o pai no exílio. Mais tarde ele comentaria que por meio desses voos, viu a floresta desaparecer de Guarapuava a Assunção.

Durante visita à Binacional, em 1978, Paulo Nogueira fez a sugestão de uma “cortina de árvores”, que se tornaria a mata ciliar, hoje uma floresta, canal da Biodiversidade, recompondo a Mata Atlântica.

“Que bicho será, mordeu o ministro Costa Cavalcanti?”, brincavam os mais próximos. Dizem que conversando com líderes de outros países, cientistas e ambientalistas o comportamento dele mudou depois da Conferência de Estocolmo. Certamente passou a reavaliar os conceitos e uma das primeiras atitudes foi convencer o presidente Médici em apressar a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente, a SEMA, comandada pelo seu Ministério.

Em certa ocasião, reunido com jornalistas locais, Cavalcanti disse jamais, em toda a vida, demonstrar afeto a um animal doméstico, “um pé de planta” ou mesmo se interessava pela natureza. Mas ao planejar Itaipu isso mudou. Como Diretor-Geral Brasileiro, acumulando o cargo de presidente da Eletrobrás, ele se empenhou ao máximo na busca de verbas para garantir a proteção ambiental. “Se você come milho, arroz ou soja, tem que desmatar a floresta para plantar. Se come carne, precisa matar o boi. E se quer energia terá que usar a água, isso é inevitável. Mas é possível fazer isso causando menos prejuízos ao meio-ambiente. Nunca, uma central hidroelétrica dedicaria tanto tempo e dinheiro ao meio-ambiente”, disse o General Costa Cavalcanti.

O fato é que a mudança de atitudes foi influenciada pelos alertas mundiais e isso mudaria também o destino da empreitada binacional, colocando-a nos trilhos das inovações no trato ambiental, o que favoreceu a população lindeira e, se tornaria uma lição para o mundo décadas depois.