As duas cidades
Refletir é bom e a coluna em geral instiga a isso. Após a eleição, ainda há um clima confundido, de expectativas, dúvidas, e ansiedade, afinal de contas, há muito por se fazer. Possivelmente a “ficha ainda não caiu” para vencedores e derrotados, levando em conta que são correntes divergentes, contínuas e alternadas, cada uma com o seu modo de pensar. A população, por sua vez, deixa de ser torcida para se tornar plateia, no módulo observação.
E daí?
É simples: se o novo governo eleito acertar, a barca seguirá o rumo, se dormir no ponto ou errar, a turba se antecipará. Sempre foi assim e, assim sempre será. Mas acompanhando um pouco do que aconteceu em várias cidades, longe de perfilar os mais de 5 mil municípios brasileiros, é possível afirmar que os efeitos da polarização ainda causaram muita bagunça, surpresas, viradas, sustos e a discussão segue em muitos locais, com o segundo turno.
Então vamos pensar
Em qual cidade as pessoas gostariam de viver? Vamos então exercitar a massa cinzenta e avaliar. Para o ensaio, vamos criar dois tipos de município: um é como a boa maioria, logo esta será a “cidade 1”. O outro é para muitos a utopia, e, certamente apareceria nas listas de “melhores lugares para se viver”, portanto existem e, neste texto, chamaremos de “cidade 2”.
Cidade 1
É onde a bagunça é encarada com normalidade, ou seja, a população não põe fé nas instituições públicas, e, acredita que situações como a corrupção, por exemplo, jamais será vencida; é onde não ligam para a grande quantidade de cargos nomeados; quem se elege faz o que bem entende, sem dar a mínima para a população. Nesta cidade os problemas na área de Saúde são crônicos, o atendimento é péssimo, doentes se acumulam nos corredores dos hospitais. Não há saneamento, esgoto, a água é contaminada pelos resíduos que vão parar nos rios e riachos. A coleta de lixo é deficiente. O meio ambiente é rigorosamente maltratado. A Educação é péssima, os professores desmotivados; as crianças não vão à escola, mas saem para as ruas desde pequenas, exploradas no trabalho infantil, no fim, são recrutadas pelo crime. Na “cidade 1” não há segurança física e mental; há desemprego, informalidade, baixa arrecadação de impostos e o que o cidadão paga, desaparece; os servidores não recebem em dia enfim, endurados nos tribunais de contas, lugares assim não aportam recursos e quando há eleições, vence o populista e os problemas são empurrados com a barriga. Durante o exercício Executivo e Legislativo, o que fazem é puxar o tapete um do outro, pensando em reeleição. Segundo uma estatística assim são boa parte dos municípios brasileiros. Uma barbaridade!
A cidade 2
É onde as coisas estão bem, há prosperidade, avanços na Educação, Saúde, higiene pública, crianças e idosos são tratados com respeito, os servidores, por sua vez, são corretamente remunerados e capacitados. O Índice de Desenvolvimento Humano é uma meta e, a Sustentabilidade também. Comércio e atividades diversas, indústria ou turismo, empregam, distribuem renda e a arrecadação é forte, porque o cidadão e os contribuintes acreditam que o dinheiro é devolvido com eficiência, em serviços públicos bem prestados. Na cidade 2, a política é um exercício bem mais cuidadoso, pois a população atingiu um grau de conhecimento razoável o bastante, não deixar a picaretagem se criar. Quando o jogo é sujo, logo identificam e expurgam os malfeitores e isso se dá pelo meio democrático; as campanhas eleitorais são limpas, as promessas cumpridas nos exercícios, e, a arte dos oportunistas, aproveitadores e aventureiros não afeta o ambiente, e eles definham à margem das decisões e saem de cena. Há sempre bons ventos soprando em locais assim, com mais união e objetivos.
Qual é a sua cidade?
Vamos trazer o assunto para Foz, que não é mais a “cidade 1” e também está longe de ser a “cidade 2”. Tomara chegue lá. O que o cidadão espera é que as coisas melhorem, os problemas sejam erradicados e o exercício de viver não se torne tão sazonal. Foz tem disso, melhora e piora, conforme o governo escolhido e isso acontece porque a população talvez não tenha encontrado a consciência civilizatória ajustada. Pode ser, o cidadão ainda não tenha compreendido o senso coletivo. Quem lê este texto, abre a janela e, olha para as ruas, saberá que ainda há crianças exploradas, a evasão escolar ainda preocupa, o subemprego abraça milhares de pessoas; a evasão escolar ainda preocupa; a Saúde precisa muitos investimentos e solucionar de vez questões que se arrastam como caracóis. Notem que os mesmos problemas são temas eleitorais, por bem mais de uma década. E como é que se resolve isso? Vai depender do maestro, de que forma conduzirá a orquestra. Se no conjunto, um violino estiver desafinado, o estrago estará feito. O General Silva e Luna que trate de escolher bem os músicos; escreva as partituras e ajuste a harmonia. É assim mesmo, na fanfarra, bateria das escolas de samba e, nas cidades!
Duas cidades
Foz tem essa vocação, de comportar dois tipos de cidades. Se de um lado há encantos naturais, parques temáticos, fabulosos hotéis, proezas da engenharia, comercio pujante, economias borbulhantes, tecnologia agrícola, um hospital entre os melhores do país (HMCC), condomínios paradisíacos, shoppings, várias obras estruturantes, de outro, há todas as mazelas que roubam a cena nos telejornais, como o contrabando, tráfico de drogas, falta de habitações, desrespeito ambiental, trânsito desordenado, enfim, vivemos cotidianamente entre a Cidade 1 e 2. Isso é fato. Bom, vamos estufar um pouco o peito e pensar positivamente, porque tudo é muito recente. As escolhas ainda nem esfriaram e Foz precisa aprender a discernir melhor como colaborar, no lugar de apenas criticar. Taí uma missão importante e que depende de um conjunto de ações coletivas.
Mudando de assunto…
O pessoal das empreiteiras deu duro no final de semana, com as máquinas apitando até tarde da noite no futuro trevo entre a BR 469 e futura Perimetral. Boa parte das alças já ganharam até uma camada de pavimentação. Vai ver alguém andou distribuindo puxões de orelhas, ou, a fiscalização está em cima. As duas obras, Perimetral e duplicação da BR 469 estão no compasso dos aditivos.
Povo pergunta
Às vezes este colunista se vê em apuros para explicar o que os leitores querem caber. Por exemplo: um dos acessos no sentido Porto Meira é muito sinuoso e claro, chama a atenção, levando em conta que veículos pesados passarão por lá e serpentearão o curto trecho. Segundo uma informação, as curvas se fizeram necessárias, para dar espaço a outros acessos. Logo iniciarão o acesso ao viaduto, e isso irá mudar o fluxo de trânsito. Os leitores perguntam sobre os prazos, mas aí já fica bastante difícil saber, para responder. Possivelmente isso só saberemos lá por 2026, antes das eleições. Que barbaridade!
Vai e vem
O feriado da Padroeira e o Dia das Crianças, aconteceu no final de semana, logo, o fluxo do turismo não foi aquelas coisas, mas na normalidade, relatam os especialistas. Este colunista, no entanto, foi prestigiar um evento que aconteceu no Shopping Catuaí Palladium na tarde do sábado e por pouco precisou deixar o veículo do lado de fora, em razão do comprometimento das vagas de estacionamento. E olha que o local é imenso, possivelmente o maior em Foz. Uma loucura de gente entrando e saído. Em raras oportunidades se viu tantas pessoas por lá!
Armazém do Artesão
Os organizadores ocuparam um espaço no Catuaí para uma feira de produtores locais. Basta frequentar iniciativas assim para concluir a excelente qualidade dos profissionais em exercício na cidade! É um setor que merece atenção e possivelmente espaços permanentes, porque os artesãos precisam. Diga-se, o artesanato é um eficiente atrativo para os shoppings e não concorrem em nada com as lojas que estão lá; é uma opção que agrada a todos.
Arte e artesanato
A qualidade é tão boa e crescente, que muitos profissionais elevam o grau de responsabilidade com os trabalhos e são mais artistas que outra coisa. Uma simples toalha ou colcha, de tão bem elaborada, às vezes ganha moldura e vai papar na parede das residências. É impressionante como o setor evolui.
Espaços públicos
Aqui vai uma dica para os gestores, porque há espaços públicos que poderiam abrigar o artesanato, o que facilitaria e muito a vida dos empreendedores. A Feirinha da JK foi criada com esse propósito, mas nem todo mundo entendeu e ainda há traquitanas paraguaias nas barracas. Isso precisa mudar e enobrecer o metro quadrado permitindo a ocupação por pessoas tão dedicadas.
Falar em Turismo…
O amigo Felipe Gonzales roubou a cena ao palestrar na Fitpar, em Assunção. Foi aplaudido de pé ao divulgar o case “Foz do iguaçu Destino do Mundo“, dentre outras, explicando a “gestão integrada”, um modelo copiado por cidades até em outros países. Felipe foi secretário de Turismo entre 2007/2012, e tem muito o que contar. Parabéns!
Seo Washington
Quem gosta e trabalha na área da publicidade veste luto, com a morte do Washington Olivetto. É o caso deste colunista que conviveu com o profissional antes de se enveredar definitivamente para o jornalismo. Várias as passagens que não saem da lembrança, tanto no campo profissional como pessoal. Mas são tantas coisas, que mereceriam um texto mais adequado, quem sabe, num capítulo ou páginas de um futuro livro. Washington foi simplesmente genial, organizado, dono de sacadas revolucionárias e que elevaram a qualidade da publicidade brasileira. Se o sábado já era triste (próxima nota), o domingo ficou bem pior.
Ademir Salvatti
Quem viveu a Foz do Iguaçu dos anos 80, conheceu o seu maior playboy, figuraça, o literal “rei da noite”, uma pessoa descolada, gentil e que marcou uma época. Era o Ricardo Amaral em São Paulo e Rio e, o Ademir em Foz. Essa pessoa, tão querida, foi embora na manhã do último sábado, em Cascavel, não resistindo ao câncer. Ademir Salvatti foi possivelmente o ser mais nostálgico de uma geração, porque soube empreender o ramo da felicidade, tornando as pessoas mais alegres. A Disco Salvatti foi o maior “parque de diversões” dos “lobos e lobas”, e os mais variados animais noturnos, por quase uma década, a boate mais incrível de todos os tempos na cidade e, algo assim só existiu, porque havia a competência de um empreendedor. Depois, alguém sempre aparecia e perguntava: “onde anda o Ademir?”. Nem sempre sabíamos responder, ou não queríamos, porque o nosso amigo atravessava momentos bem difíceis e que o levaram ao desfecho triste e irremediavelmente sem solução. Foi um gentleman para os outros e não para si. Não conseguiu manter o imenso coração batendo, com a complacência dos rins, fígado e pâncreas. Certamente se divertiria com um epitáfio desses. Grande Ademir!
Rogério Romano Bonato escreve regularmente para o Almanque Futuro