“Itaipu cumpre e inova no pacto com os Objetivos do Desenvolvimento Social”

Em entrevista exclusiva ao Almanaque Futuro, o diretor-geral brasileiro da Itaipu, Enio Verri, aborda os rumos da Usina em sua missão de prover a sustentabilidade por meio da educação, formação, ações práticas e fundamentais para a estabilidade ambiental frente às mudanças climáticas.
  • Especial Sustentabilidade/Redação Almanaque Futuro – 

Almanaque Futuro: O desenvolvimento Sustentável é a nova frente de atuação de Itaipu. Como destinarão recursos para uma demanda tão ampla?

Enio Verri – O desenvolvimento sustentável é parte integrante do planejamento estratégico da Itaipu há muitos anos. Em 2005, a missão empresarial foi ampliada por notas reversais entre Brasil e Paraguai para incluir a responsabilidade socioambiental como componente permanente do processo de geração de energia.

Agora, a nova frente de atuação da empresa se dá em três níveis territoriais. O primeiro deles consolida as ações de sustentabilidade na região Oeste do Paraná. O segundo, com a ampliação das ações para 434 municípios do Paraná e região Sul do Mato Grosso do Sul. Por fim, o terceiro, por meio de parcerias com o governo federal brasileiro para disseminar boas práticas da Itaipu em território nacional.

 

Almanaque Futuro: Qual o contexto regional para a integração dessas ações?

Enio Verri – A Itaipu dispõe de diversos mecanismos de governança corporativa e de gestão que possibilitam o gerenciamento integrado das ações. O exemplo mais recente foi o lançamento do programa “Itaipu Mais que Energia”, em 18 de agosto. É a maior iniciativa de apoio a projetos sociais, ambientais e de infraestrutura da história da empresa. Por meio do programa, serão repassados R$ 931,5 milhões aos 399 municípios do Paraná e mais 35 do Mato Grosso do Sul, totalizando 434 municípios e beneficiando 11 milhões de pessoas em 200 mil quilômetros quadrados, envolvendo prefeituras municipais, associações e consórcios de municípios, representações das populações da agricultura familiar, da agroecologia, das comunidades indígenas, cooperativas de produção solidária, organizações sindicais, universidades públicas, pescadores e aquicultores, com parcerias e contratos com organizações e instituições, como a Caixa Econômica Federal, o Parque Tecnológico Itaipu (PTI), entre outros.

 

Almanaque Futuro: Itaipu foi construída sob olhares ambientais, levando em conta programas implementados desde o início, isso justifica um esforço para uma nova postura com as populações lindeiras?

Enio Verri – A Ata do Iguaçu, de 1966, já continha trechos demonstrando preocupação com os recursos hídricos da região. Muito tem sido feito pelo meio ambiente desde a criação da Itaipu, há 49 anos. Os refúgios biológicos e a faixa de proteção do reservatório, por exemplo, asseguram a biodiversidade regional e prestam uma série dos chamados “serviços ambientais”, como sequestro de carbono pelas árvores, conservação do solo contra processos erosivos, são ações fundamentais para a estabilidade ambiental frente às mudanças climáticas.

Os municípios lindeiros – que também recebem royalties como forma de compensação ambiental – construíram experiências de sustentabilidade que podem ser consideradas vitrines, como na Gestão de Resíduos Sólidos com a inclusão de catadores; projetos agroecológicos, educação para a sustentabilidade, recuperação de nascentes e microbacias, alimentação escolar com produtos agroecológicos e da agricultura familiar, conservação de solos, conservação da biodiversidade, saneamento rural, turismo ambiental.

 

Almanaque Futuro: Muitas pessoas ainda não compreendem o desenvolvimento sustentável e nem o termo “sustentabilidade”. Como Itaipu contribuirá para esse discernimento?

Enio Verri – A presença constante dos profissionais da área ambiental da empresa na região, a grande rede articulada que comunica as ações da empresa e promove a educação ambiental, funciona como um amplificador e disseminador de boas práticas. A Itaipu, por meio de atividades educacionais internas e externas, tem destinado recursos para tratar de conceitos e aspectos relacionados ao desenvolvimento sustentável e à sustentabilidade corporativa, elaborando conteúdos, em todas as áreas de responsabilidade social, meio ambiente, educação ambiental, gestão de pessoas e comunicação social.

 

Almanaque Futuro: Investir na realização de grandes obras estruturantes é diferente de atuar na educação ambiental. É possível acreditar que Itaipu despertará essa mudança de atitudes em tempo reduzido? 

Enio Verri – A Itaipu tem cumprido um papel fundamental na promoção da educação ambiental desde 1987, com o início das atividades do Ecomuseu. Em 2023, seu Programa de Educação Ambiental completa duas décadas de impacto positivo. Cada vez mais, a empresa se empenha para que as mudanças sejam sentidas ainda pelas gerações presentes e não apenas pelas futuras.

 

Almanaque Futuro: A BP3 é uma das bacias mais produtivas do país. Nas últimas décadas, realizou avanços notáveis em conservação. Mas, a avicultura e suinocultura intensivas produzem muitos dejetos. Como será o programa de apoio ao desenvolvimento da cadeia do biogás e biometano?

Nos últimos anos, houve uma redução na ênfase dada aos projetos de desenvolvimento de biogás e biometano. No início de 2024, está prevista a inauguração da Central de Bioenergia em Toledo, um projeto financiado pela Itaipu. O biogás será convertido em energia elétrica. A Binacional abriga uma unidade de demonstração de biogás e biometano, com pesquisa e aplicação como a conversão de um ônibus de turismo para funcionar com biometano. Há uma concentração de projetos de biogás na região Oeste do Paraná e faz parte da estratégia empresarial, identificar soluções relacionadas ao biogás e biometano em outras regiões, com modelos inovadores que possam ser replicados para a redução das emissões de carbono na matriz energética estadual.

 

Almanaque Futuro: Como Itaipu trabalha os objetivos sustentáveis em sua área de abrangência, e como será a ampliação das ações?

Enio Verri  – Os programas da Itaipu têm como sua principal base de atuação garantir a segurança energética e hídrica. No entanto, é importante ressaltar que todos os projetos e ações conduzidos pela Binacional, seja nos processos internos ou nos municípios, desempenham um papel significativo, diretamente relacionados a todos os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

A Itaipu tem incorporado os ODS como uma pedra angular de sua abordagem à Gestão Ambiental e ao Desenvolvimento Social. Um exemplo são os esforços da empresa relacionados ao ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis e sua Meta 11.1, que visa “garantir o acesso de todos à habitação segura, adequada e acessível, e à urbanização das favelas até 2030”.

No decorrer de 2023, a Diretoria da Itaipu tomou a iniciativa de comprometer todos os recursos provenientes da venda de imóveis residenciais da organização para a construção de moradias populares. A área de responsabilidade social também acompanhou e participou da construção dos ODS mundiais definidos pela ONU. A Assessoria de Responsabilidade Social, em conjunto com a Assessoria de Planejamento Estratégico, identificou as metas dos ODS para as quais cada programa e ação da Itaipu apresentam contribuições, e fazem parte do Relatórios de Sustentabilidade e no Caderno de Indicadores publicados desde 2016.

 

Almanaque Futuro: Ainda sobre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável instituídos pela ONU, o “Destino Sustentável” entre outras, é possível acreditar que a região possa ser um exemplo no esforço de prolongar os recursos?

Enio Verri  – Desde o seu lançamento em 2015, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) têm sido uma parte integral das iniciativas das áreas de responsabilidade social e meio ambiente da Itaipu. O primeiro e principal objetivo é garantir que as ações da Itaipu sejam eficazes e tragam contribuições significativas para a sociedade.

A região onde a usina está instalada tem o potencial de se destacar como um exemplo de conservação de recursos naturais. As iniciativas desenvolvidas pela binacional, especialmente em Foz do Iguaçu, podem servir como modelos replicáveis. No entanto, é importante ressaltar que a missão principal da Itaipu é produzir energia de alta qualidade, sempre com respeito ao meio ambiente e ao desenvolvimento social. A usina produz energia limpa e sequestra muito mais carbono do que emite, e está comprometida com a conservação e restauração da biodiversidade.

 

Almanaque Futuro: Como a Itaipu Binacional tem contribuído para a promoção da sustentabilidade ao longo de seus 50 anos de história e quais são as principais conquistas?

Enio Verri – Desde a criação da Itaipu e a assinatura do acordo Tripartite, a Itaipu realiza diversas ações ambientais. Dentre elas, desde 1982 realiza o monitoramento da qualidade da água do seu reservatório e entorno; em 2003, incorporou oficialmente o desenvolvimento sustentável em sua missão, tornando-se um farol global de práticas sustentáveis, o que resultou em uma série de prêmios nacionais e internacionais. Um dos primeiros marcos notáveis na jornada da Itaipu em direção à sustentabilidade foi a criação de áreas protegidas no Brasil e no Paraguai, abrangendo cem mil hectares de florestas em diferentes estágios de conservação. É um compromisso tangível com a preservação da biodiversidade e dos ecossistemas naturais. Há também o compromisso por meio da adesão ao processo de certificação em biodiversidade (Certificação Life) e pelo reconhecimento das áreas protegidas da empresa como parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica pelo programa MAB (Man and Biosphere) da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Isso ampliou as ações de conservação de espécies ameaçadas, criando os corredores ecológicos por meio da restauração de microbacias, além das outras iniciativas para a promoção da sustentabilidade em larga escala.

 

Almanaque Futuro: A Itaipu Binacional tem desempenhado um papel importante na geração de empregos e no desenvolvimento econômico local. Como esses benefícios estão alinhados com os objetivos de sustentabilidade da empresa?

Enio Verri – A geração de empregos e o desenvolvimento econômico são elementos essenciais no planejamento estratégico da Itaipu. A empresa implementa diversos projetos significativos voltados para essa finalidade, como o “Trilha Jovem,” o “Centro de Atenção Integral ao Adolescente (CAIA),” e o “Programa de Incentivo e Início ao Trabalho,” entre outros. Outro exemplo é o “Programa de Gestão de Resíduos Sólidos” e as “Unidades de Valorização dos Reciclados” com um impacto considerável nos 55 municípios, com um investimento de R$ 99 milhões resultando na criação de mais de 1.000 empregos, com uma renda média de R$ 1.600,00. O retorno econômico é superior a R$ 1 milhão, além de contribuir para a reciclagem de mais de 8 mil toneladas por mês. A abordagem também se reflete em outros programas, como os relacionados ao biogás, energia fotovoltaica, produção de alimentos pela agricultura familiar e saneamento ambiental.

 

Almanaque Futuro:  À medida que a tecnologia avança, quais os planos da empresa para melhorar ainda mais a eficiência energética e a redução de impactos ambientais?

Enio Verri – Atualmente, um dos maiores projetos em andamento é a Atualização da Usina, que tem como foco principal garantir a eficiência elétrica e energética da usina. É importante salientar que esse projeto é voltado exclusivamente para a atualização, não para a expansão da central.

Além da atualização tecnológica da usina, a empresa está adotando outras medidas para melhorar sua eficiência e reduzir seu impacto ambiental, utilizando veículos elétricos em sua frota, reuniões por videoconferência para reduzir deslocamentos e a priorização do uso de combustíveis menos poluentes.

 

Almanaque Futuro: Considerando o futuro da energia e o compromisso com a sustentabilidade, como a Itaipu Binacional planeja se adaptar e continuar sendo uma referência em energia limpa nos próximos 50 anos?

Enio Verri – A Itaipu Binacional está firmemente comprometida com a sustentabilidade e tem planos bem definidos para continuar sendo uma referência em energia limpa nos próximos 50 anos, alinhados com a evolução das demandas energéticas e ambientais, e considera a sustentabilidade como um valor fundamental, incorporado em todos os seus instrumentos de planejamento. Isso implica na contínua estruturação e desenvolvimento de iniciativas. A expansão da vida útil do reservatório, atualmente estimada em 194 anos, é outra prioridade da Itaipu, com práticas de gestão responsável dos recursos hídricos, garantindo um suprimento de água sustentável para a geração de energia, com o estímulo em desenvolver uma matriz energética ainda mais limpa e diversificada, como o biogás e biometano.

 

Almanaque Futuro: Quais parcerias estratégicas a Itaipu Binacional estabeleceu ou planeja estabelecer para promover a inovação e a sustentabilidade em suas operações?

Enio Verri  – A Itaipu Binacional mantém parcerias estratégicas com organizações como o Pacto Global da ONU e a Fundação Parque Tecnológico Itaipu para promover a inovação e a sustentabilidade em suas operações. Há ações com empresas públicas, privadas, cooperativas, ONGs, associações. A rede é diversificada, complexa e atuante. Desde 2009, a Itaipu é signatária do Pacto Global, mantendo o compromisso de atuar em alinhamento com um conjunto de 10 princípios universais relativos à defesa dos direitos humanos, condições de trabalho, meio ambiente e práticas anticorrupção, respondendo a um questionário relacionado aos princípios e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

 

Almanaque Futuro: Com a conscientização e sustentabilidade, como a Itaipu Binacional está se relacionando com outras empresas e stakeholders, na promoção de práticas sustentáveis em toda a cadeia de valor?

Enio Verri – Além do programa “Itaipu Mais que Energia”, mencionado anteriormente, também está sendo contratado um sistema informatizado para aprimorar o processo de gerenciamento de convênios, tendo como um dos objetivos otimizar as contribuições para a sociedade dos projetos desenvolvidos com os parceiros. Itaipu inicia projetos com o Ministério de Direitos Humanos e da Cidadania e com o Pacto Global em temáticas que tratam de aspectos sociais e de direitos humanos. A empresa participa de conselhos de governança e/ou projetos e comissões em mais de 90 organizações nacionais e internacionais, como conselhos de meio ambiente e de unidades de Conservação, Instituto Life, Abrage, Unesco, entre outras.

 

Almanaque Futuro: A Itaipu Binacional tem sido pioneira no Brasil em pesquisas sobre hidrogênio verde. Quais são as perspectivas da Itaipu Binacional, considerando a matriz energética brasileira?

Enio Verri – Em um contexto nacional, com a diversidade de recursos energéticos do Brasil e uma matriz energética com forte presença de fontes renováveis, o hidrogênio verde assume um papel crucial na estratégia de descarbonização e combate às mudanças climáticas. O marco inicial dos projetos sobre hidrogênio ocorreu em 2011, em parceria com a Eletrobras e PTI, e foi resultado de anos de estudo de um colaborador da empresa, desenvolvido durante o doutorado. Uma planta experimental de produção de hidrogênio foi construída, entrando em operação em 2014. Atualmente, o espaço não apenas produz hidrogênio, mas também demonstra sua aplicação direta na geração de energia por meio de células a combustível.

Um dos avanços mais recentes é a combinação do hidrogênio produzido por eletrólise com o reformador de biometano, em colaboração com o Centro Internacional de Energias Renováveis – Biogás (CIBiogás). A parceria está permitindo a produção do BiosynCrude, uma base para combustíveis sintéticos de baixa emissão de carbono.

Avanços como esse e de outras pesquisas têm o potencial de impactar positivamente o futuro energético do país e promover a adoção de fontes de energia limpa e renovável em larga escala.