A recente “expedição” paranaense aos Emirados Árabes aumentou a chama das relações entre os povos e fez esperançosos, muitos empresários do ramo hoteleiro e de gastronomia. Mas também surgiram muitas dúvidas
Os hábitos gastronômicos são uma motivação ao se escolher um destino. Os costumes regionais enchem os olhos e ocupam espaço ao lado dos atrativos. O Nordeste vende os frutos do mar, o Sul o churrasco e as massas, o Sudeste a variedade internacional e cada região, tenta a todo custa emplacar os pratos típicos.
Mas vamos pensar, a possibilidade de se hospedar em um hotel luxuoso e no sábado, encarar uma suculenta feijoada, regada de caipirinha, acompanhada de torresmo e outras delícias que há, na mais tradicional iguaria brasileira? No buffet, no entanto, encontraremos misturado com o feijão, o frango, carne bovina, equina, sem os ingredientes originais, os derivados de carne de suínos, refrescados por uma limonada, sem a cachaça. É a versão da “feijoada halal”. Não é uma piada, ela já foi servida exatamente assim em Foz, em algum lugar do passado.
Atrair os quase dois bilhões de muçulmanos, islâmicos, não é uma tarefa nova. Muitos segmentos de viagens trabalham experiências assim. Foz está com os olhos em países do Oriente Médio, África e Ásia, onde os costumes são múltiplos e exigem um esforço de adaptação. A mais recente discussão, é a implantação da culinária “Halal”.
O que é ipsis litteris o Halal?
O Islã propõe regras para os costumes e dentre eles, a alimentação. Isso ocorre em acordo com o que está escrito no Alcorão. Em árabe, “Halal”, significa “autorizado”, ou deriva de interpretações como “lícito” e “correto”. Há regras para essa “autorização”, seja na forma de abate das carnes, ou fabricação de alimentos em geral. Suínos e bebidas alcoólicas são terminantemente proibidíssimos.
Criar instituições para certificar os alimentos, foi a solução para acompanhar os procedimentos de produção ao redor do mundo. No Brasil existe a Cibal Halal, ou Central Islâmica Brasileira de Alimentos Halal, considerada um braço da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (FAMBRAS).
O padrão Halal atende as exportações aos países muçulmanos e também o mercado interno, porque até mesmo cristãos passaram a adotar o hábito, considerando que isso vai muito além da religião, alimentos Halal são livres dos aditivos nas rações, por exemplo, sem hormônios para a engorda animal, com uma qualidade mais natural, em processos cuidadosos até na embalagem e armazenagem. A certificação é muito séria e criteriosa. Para se ter ideia, não são utilizados os mesmos equipamentos nas indústrias, com a segurança de não haver a contaminação por outros produtos.
Os Islâmicos consomem as carnes “permitidas”, se o animal passar pelo processo de degola, voltado à cidade sagrada de Meca; deve estar vivo e pelas mãos de um muçulmano. A faca utilizada precisa ser muito afiada, o que garantiria a morte instantânea do animal, sem sofrimento. Antes do abate, porém, o degolador pede autorização a Deus, em árabe, como forma de obediência e agradecimento.
Quais os alimentos?
O que respeita as Leis islâmicas é permitido, ou o que não contenha partes ou ingredientes considerados proibidos, dos animais que não tenham sido abatidos conforme o Alcorão Sagrado e em Jurisprudência Islâmica.
Os peixes, por exemplo, são naturais, menos os retirados de águas impuras, que possam ser intoxicados, virtualmente prejudiciais à saúde humana; répteis como os jacarés, ou crocodilos, não são permitidos.
O vegetal é Halal é praticamente o orgânico, ou o que não é exposto à pesticidas; produtos minerais ou químicos, são permissíveis. A água pura, é totalmente Halal. O que é criado por meio da biotecnologia, extraído de vegetal, mineral e microbiana para a indústria alimentar, é Halal. Produtos de origem sintética, utilizados na indústria de alimentação serão Halal a partir da comprovação de sua elaboração.
Queijo processado através do coalho microbiano é Halal, assim como são, o leite de vacas, ovelhas, camelas e cabras. Frutas frescas ou secas, legumes, sementes como amendoim, nozes, caju, avelãs, grãos como trigo, arroz, centeio, cevada, aveia, dentre outros, fazem parte da mesa islâmica.
Os ambientes
Não é verdadeira a informação, que os estabelecimentos que servem comida Halal, não devem servir o haraam, o proibido; há neste caso, uma questão de organização, respeito e honestidade. Não é raro observar em alguns estabelecimentos, parte dos bufês indicando alimentos Halal.
Os habitantes do mundo árabe, ainda não pontuam com destaque, na lista dos que mais viajam pelo planeta. Segundo órgãos oficiais e sites de viagens, os chineses, norte-americanos, alemães, britânicos, franceses, australianos, canadenses, russos, italianos e escandinavos (Dinamarqueses, suecos, finlandeses e noruegueses) ocupam as dez primeiras posições. Mas os sauditas, por exemplo, aparecem na 21ª posição, viajam mais que os brasileiros que ocupam a 23º posto, de acordo com a Panrotas.
As pesquisas mostram que a maioria dos turistas querem conhecer os hábitos e a alimentação dos destinos, mas isso muda quando a visita é árabe, israelita ou oriunda de alguns países asiáticos. Entender hábitos, religiões e preceitos faz parte da boa recepção. Vários hotéis precisaram se adaptar para dar conforto aos chineses, por exemplo, que necessitam água quente a todo momento. Vale destacar que o nível de exigência do turista tem aumentado consideravelmente.
Foz do Iguaçu pode se socorrer nas experiências de outros destinos, como cidades francesas, inglesas e italianas, que recebem a crescente visita de árabes muçulmanos. Segundo o secretário de Turismo, Paulo Angeli, um dos caminhos é certificar estabelecimentos. “Há meia centena de restaurantes, empórios e até mesmo hotéis com forte expressão islâmica, e, não podemos esquecer que a nossa região é trinacional e abriga a segunda maior colônia árabe brasileira. O caminho é a certificação halal e isso não é um bicho de sete cabeças, basta a parceria com organismos oficiais e isso depende muito dos empresários, receptores diretos de visitantes de todos os continentes”.
A visão do poder público é acertada, uma cidade como Foz do Iguaçu deve manter as portas abertas para todos os interessados e recebe-los com cordialidade exemplar, o que é a melhor propaganda no setor. Visitantes e turistas bem recebidos ou voltam, ou indicam.
Olhar para os viajantes árabes é avistar o futuro, porque os Emirados avançam nas propostas para o setor de turismo, detém, entre outras, ações em grandes companhias aéreas, redes hoteleiras e investem em atrativos. Quem participou da última Expo Dubai, garante que os atrativos de Foz chamaram muito a atenção de investidores e a cidade precisa tratar de preparar o terreno para receber os interessados não só em visitar, mas em potencializar negócios.
Redação, com informações da Câmara de Comércio Árabe-brasileira