CRIANÇAS DE ESCOLAS PÚBLICAS VISITAM OBRAS DE ARTE EM HOTEL DE LUXO

Sanma Hotel tem a maior coleção de arte aberta ao público em Foz do Iguaçu; projeto educativo é inédito e promove aulas práticas de artes visuais dentro do hotel

Assim que as portas automáticas do luxuoso hotel se abrem, o burburinho de vozes infantis confirma: hóspedes nada convencionais acabam de chegar. Eles ficarão poucas horas e estão mais interessados na decoração do hotel, do que na hospedagem de fato. “Olá, sejam bem-vindos ao Sanma Hotel! Vocês já estiveram aqui antes?”. A moça que os recepciona usa um chapéu preto bastante estiloso.

Maria Eduarda Pontes e Pontes é professora de artes visuais e responsável pelo Acervo Sanma, a maior coleção de arte aberta ao público em Foz do Iguaçu. Em conjunto com a equipe do hotel, ela desenvolveu o projeto educativo que recebe estudantes para conhecer as obras e participar de atividades artísticas. Tudo de graça.

A professora de Artes Visuais, Maria Eduarda Pontes e Pontes desenvolveu o projeto em conjunto com a equipe do hotel. (Foto Assessoria)

Alguns passos adiante e a turma do 4º ano da Escola Municipal Augusto Werner (Vila Carimã) avança por um dos corredores do hotel repleto de quadros imensamente coloridos. “Quem produziu essas gravuras foi um artista chileno chamado Kennedy Bahia, que viveu no Brasil e registrou nossa fauna, flora e nossas baianas com muita alegria e entusiasmo,” explica Maria Eduarda.

O Sanma Hotel tem a maior coleção de Kennedy Bahia de que se tem notícia. São mais de 60 serigrafias originais do artista, adquiridas em leilões nas décadas de 1970 e 1980, além de peças únicas em tapeçaria.

O interesse leva as crianças para perto dos quadros. A natural capacidade de se importar com os detalhes as faz enxergar coisas inesperadas. “Olha um periquito aqui no meio”, um dos meninos contou à colega. Dali, as crianças seguem para o espaço preparado para ser um ateliê de artistas ainda principiantes, mas que têm criatividade surpreendente. Eles se sentam em volta de mesinhas e se deparam com inúmeras folhas de papel colorido.

O hotel se transforma num ateliê infantil cheio de criações inusitadas. (Foto Assessoria)

O desafio é compor uma releitura com recortes e colagens, inspirados nas serigrafias que viram anteriormente. Os fundamentos incluem o desenvolvimento da criatividade e da linguagem visual, a valorização da autoestima e o aprimoramento da coordenação motora.

“Por causa da internet, as gerações mais recentes tiveram a coordenação motora fina muito comprometida, principalmente o movimento de ´pinça´, então, aqui eles são forçados a produzir com as próprias mãos, estimulando a coordenação ‘cérebro-mão’”, ressalta a educadora Maria Eduarda.

Foi isso que despertou o interesse de Rafaela Costa Braga Ducato, responsável pelo setor de projetos e eventos da Secretaria Municipal de Educação de Foz do Iguaçu (SMED). Ela considera o projeto inovador, enriquecedor e muito adequado à grade curricular de artes visuais aplicada a essa idade.

“Normalmente, é tudo em sala. Ou eles assistem a vídeos ou olham figuras nos livros. Por isso, a possibilidade de que eles vejam concretamente obras de arte chamou muito nossa atenção!”, destaca.

Ao redor da mesa cheia de folhas coloridas, tesouras e cola, as crianças começam a compor desenhos e figuras com liberdade para criar. “Me alcança a folha verde, por favor!”, “Como eu faço uma palmeira?”, “Eu quero uma borboleta!”. E cada uma se sente um pouco artista. “A gente se inspira”, fala a pequena Emily Souza, de 10 anos. O colega dela, Bruno Dalariva, de 9 anos, completa: “É mais realista fazer assim”. A professora Marta Patrícia está encantada com a oportunidade. “É muito difícil imaginar que essas crianças, nessa faixa etária, teriam esse tipo de acesso a obras de arte,” e segue, “eles vão contar para os pais, para os vizinhos e vão lembrar dessa experiência a vida toda!”.

Durante o passeio pelo hotel, os estudantes também conhecem o laguinho onde há muitas carpas. “Uma vez eu passei com meu pai na frente do hotel e ele contou dos peixes coloridos daqui. Foi muito legal poder observar as carpas e dar comida para elas!”, revela Samanta da Silva, de 9 anos.

Samanta da Silva

Após as atividades, um lanche com bolos, pão de queijo e sucos é servido para as turmas. As visitas dos alunos das escolas municipais de Foz do Iguaçu são quinzenais e duram 3 horas, com número máximo de 20 alunos, de 6 a 12 anos. Também é possível agendar de forma particular, para grupos de crianças.

O Acervo Sanma
Com mais de 340 peças individuais de obras de arte, o Acervo Sanma conta com obras de importantes artistas latino-americanos como Aldemir Martins (1922-2006), Fernando Calderari (1939-2021), Antunes Netto (1936-1982), Carlos Bastos (1925-2004), Kennedy Bahia (1929-2005), Ida Hannemann de Campos (1922-2019) e Maria Cecília Wagner (1947-2009). A coleção é composta por pinturas, esculturas, xilogravuras, litografias e tapeçarias; todas em diferentes formatos.

A iniciativa de um passeio guiado que enalteça o acervo de obras de arte é uma homenagem a Santo Salvatti, pioneiro da hotelaria iguaçuense. Falecido em 2021, ele foi um dos fundadores do Sanma Hotel e responsável pela aquisição das peças da coleção.

A filha dele, Isabel Salvatti, conduziu a reconfiguração na direção e no conceito do novo empreendimento hoteleiro. Para ela, esse projeto é um ótimo exemplo da forma atual de se conduzir empresas, com relevância para iniciativas de interação social, sustentabilidade e governança. “Uma empresa não pode ter foco somente no resultado financeiro. É preciso que o propósito envolva a comunidade, inclusive com o estabelecimento de parcerias das esferas pública e privada.”

Entre os novos acionistas do hotel, figuram representantes do Grupo Sarabia. Eles consideram que facilitar o acesso das crianças à cultura e a um ambiente diferenciado é oportunizar o futuro. “Nós temos como premissa várias ações sociais, principalmente aportes nas áreas da saúde, educação e social. Sempre podemos fazer algo pelo próximo, principalmente pelos que estão no nosso entorno, retribuindo em forma de oportunidade”, explica Paulo Sarabia, representante do grupo.

Em breve, o projeto será ampliado de modo que as crianças conheçam melhor o hotel, as instalações de hospedagem, os bastidores e reconheçam, entre os funcionários, as profissões envolvidas no cotidiano de trabalho da rede hoteleira. “Quem sabe daqui a uns anos, algum deles retorne como parte da equipe?”, comenta Isabel Salvatti.

Assessoria