Por Adilson Pasini
As ruas de Foz do Iguaçu deveriam ser identificadas como conexões que possibilitam afinidades entre as pessoas, além de revelar as marcas particulares da cultura em razão da convivência dos que nelas circulam, residem, trabalham e estudam.
Mas será que a população revela algum tipo de felicidade ao circular pelas nossas vias públicas?
Foz do Iguaçu com população beirando duzentos e oitenta mil pessoas possui uma malha complicada em alguns pontos na geografia do município, e as características de algumas ruas não se associam à felicidade em nível comunitário.
A densidade populacional está concentrada em vários bairros e alegria de locomoção não é percebida, mostrando com isso que a vida é significativamente menos feliz em áreas mais densas.
Os bairros mais populosos de Foz do Iguaçu se destacam como ilhas de relativa infelicidade, se comparado ao grau de satisfação nas cidades pequenas no entorno do município.
Para avaliar o nível de felicidade basta ir aos terminais de ônibus ou perguntar ao motorista que está engarrafado num horário de pico; apenas esses dois exemplos bastam para a insatisfação se revelar.
O que torna uma comunidade feliz são os meios transitórios sem gargalos, que facilitam os deslocamentos com maior agilidade. O tempo é imprescindível, principalmente para quem usa o transporte coletivo.
Vale lembrar que as cidades pequenas e áreas rurais são mais propícias para fortalecer relações nas estradas do que as grandes cidades, e isso explica porque há maior grau de paciência e um sentimento de pertencimento das vias públicas.
O que as lições dos engarrafamentos podem nos indicar: estresses, agressões, impedimento de soluções cotidianas e uma grande sensação de que os órgãos responsáveis não estão atentos às necessidades da população.
Quais as Avenidas e ruas que incomodam os cidadãos em Foz:
- O trevo do Charrua que gerou um apartheid numa parte da região da Vila A, trecho de destino dos universitários e acesso a usina de Itaipu.
- O grande viaduto na BR-277, obra que coloca em dúvida os diplomas dos engenheiros e da empresa que a construiu.
- A Avenida Beira Rio que poderia deslocar o trânsito entre a Ponte da Amizade e a futura Ponte de Integração.
- A Perimetral Leste que até sua plena conclusão deixa o centro da cidade infernizado com as cargas pesadas dos caminhões, e pairando dúvidas ainda da possiblidade de alguns bairros ficarem isolados.
- A Av. Gen. Meira em reforma que aparenta aliviar somente o trânsito para ciclistas.
- A Rua João Paulo II que poderia ser uma boa alternativa para dar maior fluxo entre a Av. Costa e Silva e a Av. das Cataratas.
Todas essas vias citadas e outras com complicações inferiores são as que, surpreendentemente, parecem não desempenhar um papel importante na percepção da felicidade da população.
Fora as muitas pontes pequenas que poderiam ser construídas sobre a extensão dos riachos que formam a malha fluvial da cidade, por exemplo, a construção de uma ponte no final da Avenida Brasil para deslocar o tráfego do centro da cidade para quem objetiva ir à zona sul, visto que hoje o trânsito está carregando a Av. Jorge Schimmelpfeng e a Rua Belarmino de Mendonça.
As observações são compatíveis com os estudos semelhantes feitos com as ruas de outras cidades menores, revelando que quanto o trânsito menos denso, as pessoas tendem a ser mais felizes.
Cabe aqui uma advertência para não fazer declarações sobre a causalidade, pois há uma associação entre baixa densidade populacional e felicidade declarada, e isso não significa que a baixa densidade cause felicidade, mesmo porque alguém com baixo nível de contentamento, que se muda para uma área rural, por exemplo, pode simplesmente se tornar um morador do campo, infeliz.
A força desta análise é que se verifica distinções em um nível incomum de detalhes geográficos da cidade, e Foz, por não ter muitos declives e aclives acentuados, tem tudo para para deixar o usuário feliz, basta os governos usarem da sensibilidade e executarem as obras necessárias.
Adilson Pasini é colaborador do Almanaque Futuro