O corredor ecológico do Canal da Piracema

Mais de 180 espécies foram identificadas utilizando o canal como um corredor de biodiversidade

 

Especial Meio Ambiente

 

O Rio Paraná, dentre outras, ficou muito conhecido no passado pela fartura de peixes. A pesca indiscriminada, desrespeitando as épocas de desova, colocou em risco muitas espécies. A construção de Itaipu interrompeu o curso de migração da fauna aquática e para garantir a desova, foi inaugurado em dezembro de 2002, um sistema de 10,3Km de extensão que funciona como um corredor ecológico, permitindo que os peixes migradores superem os 120 metros de desnível médio da barragem, alcançando as áreas de reprodução na planície do Alto Rio Paraná e Parque Nacional de Ilha Grande.

Foram realizados vários estudos da distribuição de ovos e larvas de peixes na região, conduzidos em parceria com entidades, o que evidenciou a importância da iniciativa como área de desova e desenvolvimento inicial de espécies nativas. Os estudos de reprodução dos peixes são realizados há 17 anos, indicando as principais áreas de berçários para os peixes no reservatório e Pio Paraná à montante.

Boa parte da extensão do Canal corresponde ao leito do rio Bela Vista, um pequeno afluente do rio Paraná que deságua 4 km à jusante da barragem. Para conectá-lo ao reservatório foram construídos segmentos no formato de escadas, com canais de concreto, além de quatro lagos artificiais.

A Itaipu realiza inventários periódicos no sistema para identificar as espécies de peixes e sua abundância, aproveitando para marcar os indivíduos migratórios que são capturados. Isso ocorre desde 2004. Graças a estes levantamentos, já foram identificadas 186 espécies. Além das que utilizam o canal como um corredor de biodiversidade.

Outras espécies, consideradas sedentárias desenvolvem todo o seu ciclo de vida no Canal e seu entorno, aproveitando a grande diversidade de ambientes encontrados ao longo do sistema. Muitas dessas espécies são raras, o que também indica que o Canal, sendo uma área protegida, oferece um refúgio para os peixes nativos.

Desde 2009, o monitoramento eletrônico da ictiofauna utiliza marcas do tipo PIT-Tag (Passive Integrated Transponder), uma maneira de compreender melhor como as espécies migratórias aproveitam o Canal. Mais de 6.800 peixes já receberam as marcas eletrônicas. Por meio de conjuntos de antenas, operandi por 24 horas, é possível registrar o momento exato em que os peixes marcados utilizam o Canal. As marcas, são implantadas na cavidade abdominal dos peixes e ao se aproximarem das antenas ocorre o registro. As marcas são encapsuladas em vidro, com cerca de 23 mm de comprimento e tem formato alongado e possuem uma vida útil ilimitada.

Graças à marcação, foi possível registrar a presença de três espécies nos elevadores de ictiofauna da usina hidrelétrica Binacional Yacyretá, a próxima barragem à jusante da Itaipu, no rio Paraná. A constatação é importante ao comprovar que depois de vencer cerca de 400 Km entre as duas barragens, os são capazes e transpor a barragem pelo Canal da Piracema.

Em parceria com a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), há pesquisas no sentido empregar ferramentas de biologia molecular para verificar se espécies como pintado e dourado, estão transitando pelo Canal e efetivamente reproduzindo no reservatório e nos trechos a montante, garantindo o fluxo gênico necessário para conservação das espécies. Já, um convênio com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) deve viabilizar pesquisas que têm por objetivo realizar inventários da ictiofauna a partir de células liberadas pela pele dos peixes para a água e o sedimento, evitando a necessidade de captura dos indivíduos. Desta forma, o monitoramento se tornará mais eficaz, econômico e não-invasivo.

Concebido como um autêntico elo da vida, o Canal da Piracema tem ainda outra finalidade: a promoção do esporte. Um pequeno segmento central, chamado Canal de Itaipu, serve para a prática de esportes náuticos de competição, como canoagem slalom e rafting. Com 430 metros de extensão e desnível de 7,2 metros, o Canal de Itaipu está projetado para criar o regime turbulento ideal para estes esportes, contribuindo para a formação de atletas brasileiros de elite em suas modalidades.

 

*Informações fornecidas pela Comunicação Social de Itaipu Binacional.