Reverdecer a história: a luta pela recomposição da Mata Atlântica

Entre perdas e reconquistas, a cidade que cresceu às margens dos rios Paraná e Iguaçu agora busca reequilibrar sua relação com a natureza.

Foz está em meio a uma das formações florestais mais ricas e ameaçadas do planeta: a Mata Atlântica. No entanto, os ciclos econômicos que impulsionaram a ocupação do território — da erva-mate à madeira, da agropecuária às grandes obras — deixaram como legado uma ameaças ambientais. Durante décadas, o verde virou lucro, e as florestas cederam lugar a pastagens, plantações e zonas urbanas.

A virada começou com o reconhecimento do valor ambiental da região. A criação do Parque Nacional do Iguaçu, em 1939, foi um marco na proteção das últimas reservas da mata nativa no extremo oeste paranaense. O parque tornou-se Patrimônio Natural da Humanidade e símbolo da conservação brasileira. Mas proteger o que resta não bastava: era preciso recompor.

Nas últimas décadas, uma série de ações coordenadas, lideradas por instituições públicas, ONGs, comunidades rurais e, sobretudo, pela Itaipu Binacional, colocaram Foz do Iguaçu no centro de um esforço inédito de recuperação florestal. A usina, que foi alvo de críticas por seu impacto ambiental inicial, passou a investir sistematicamente em sustentabilidade. Hoje, é referência internacional em programas de educação ambiental, agroecologia e reflorestamento.

A criação dos Refúgios Biológicos — como o Bela Vista — e a implantação do Corredor de Biodiversidade entre o Parque Nacional do Iguaçu e outras áreas protegidas ao longo do rio Paraná, além de Ilha Grande, mostram que é possível conciliar desenvolvimento energético com a preservação da vida. Milhões de mudas nativas foram plantadas ao longo das margens do reservatório, criando passagens seguras para animais silvestres e reconectando fragmentos florestais antes isolados. As florestas literalmente renasceram.

As ruas de Foz do Iguaçu são amplamente arborizadas, formando um dos traços mais marcantes da paisagem urbana da cidade. Em muitos bairros, a copa das árvores cria túneis naturais que encantam moradores e turistas, tornando-se, inclusive, verdadeiros cartões-postais. Em determinadas épocas do ano, os ipês floridos colorem o céu e o chão com tons vibrantes de amarelo, rosa e branco, conferindo à cidade um charme singular. No entanto, o tempo tem cobrado seu preço: muitas árvores, antigas e fragilizadas, estão tombando, colocando em risco a segurança de pedestres, veículos e residências. Esse fenômeno revela uma lacuna na política de manejo arbóreo — falta um plano estruturado de reposição, manutenção e renovação das espécies, capaz de preservar a identidade verde da cidade sem comprometer a segurança da população.

A beleza da arborização urbana, tão valorizada por quem visita e tão protegida por quem vive em Foz, não pode depender apenas da sorte ou da indignação que surge após a queda de uma árvore.

É preciso planejamento. Apesar das dificuldades, a cidade tem buscado ampliar sua consciência ambiental, por meio de ações como hortas comunitárias, trilhas ecológicas, programas de compostagem e projetos de educação ambiental nas escolas. Aos poucos, Foz do Iguaçu vai compreendendo que plantar e cuidar de uma árvore é também cultivar valores, vínculos e compromissos com o amanhã — um futuro em que natureza e cidade possam coexistir em equilíbrio.

Mesmo diante dos desafios urbanos, a biodiversidade voltou a dar sinais de força: onças-pintadas, antas, veados, lontras e aves ameaçadas de extinção têm sido avistadas com mais frequência. Os corredores ecológicos agora conectam parques, reservas e áreas de produção agroecológica, formando uma malha de vida que redefine o mapa ambiental da região trinacional.

Mais do que um discurso, a recomposição da Mata Atlântica em Foz do Iguaçu é um gesto de responsabilidade intergeracional. Reflorestar é resgatar o passado e garantir um futuro respirável. Afinal, nenhuma cidade pode ser verdadeiramente moderna se continuar devastando o que a fez nascer.

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