A leitura nossa de cada semana!

*Por Luiz Henrique Dias_

 

Acabei de ler “A Vegetariana”, da Nobel de Literatura, a sul-coreana Han Kang. Antes de comentar, indico muito a leitura. Fluída, intensa e potente.

Dito isso, afirmo que o livro não trata de vegetarianismo, apesar que confesso ter sido fisgado pelo título – pois sou vegano – e começado a leitura pensando que seria uma trama envolvendo uma mulher que optou por ser vegetariana.

Mesmo assim, uma orientação alimentar tida como “fora” do padrão é o molho para um ambiente familiar e social que, de tão agressivo, vira gatilho para os processos que irão ocorrer ao longo da obra. Muitas pessoas que – como eu – são veganas, ou vegetarianas, em diversos momentos das primeiras páginas se aproximam emocionalmente da personagem principal e do caos externo que se instaura a partir do anúncio de não mais comer carne.

Então, eu diria que o livro fala mesmo sobre traumas.

Sobre opressão.

E fala de valores morais e culturais absolutamente recalcitrantes. Mas não diz o que é certo ou errado, pelo contrário, coloca poesia em muita coisa – aos olhos de parte significativa da sociedade – inaceitável. E trata dos dramas cotidianos de pessoas reais, sem épicos e sem grandes protagonistas. Que leitura!

Ainda, tem uma estrutura textual própria, digna de ganhar prêmio – se o Nobel, aí você pode avaliar – e ser traduzida para o mundo todo. São três partes, capítulos, que poderiam ser três histórias, mas se cruzam, alternam pontos de vista, narradores, distâncias focais, e assim nos comovem e por vezes nos chocam.

Assim, “A Vegetariana” pode ser uma boa opção para quem quer consumir rápido uma boa narrativa. Tem na versão ebook e física. Eu preferi a física. Mas, seja qual for, você – acho – vai gostar.

Luiz Henrique é arquiteto e urbanista, coordenador do Instituto de Estudos Urbanos.